Avózinha.Susto Posted September 29, 2004 Share Posted September 29, 2004 Vamos deixar aqui as obras poéticas que mais gostamos. Ricardo Reis Deixemos, Lídia Deixemos, Lídia, a ciência que não põe Mais flores do que Flora pelos campos, Nem dá de Apolo ao carro Outro curso que Apolo. Contemplação estéril e longínqua Das coisas próximas, deixemos que ela Olhe até não ver nada Com seus cansados olhos. Vê como Ceres é a mesma sempre E como os louros campos intumesce E os cala prás avenas Dos agrados de Pã. Vê como com seu jeito sempre antigo Aprendido no orige azul dos deuses, As ninfas não sossegam Na sua dança eterna. E como as heniadríades constantes Murmuram pelos rumos das florestas E atrasam o deus Pã. Na atenção à sua flauta. Não de outro modo mais divino ou menos Deve aprazer-nos conduzir a vida, Quer sob o ouro de Apolo Ou a prata de Diana. Quer troe Júpiter nos céus toldados. Quer apedreje com as suas ondas Netuno as planas praias E os erguidos rochedos. Do mesmo modo a vida é sempre a mesma. Nós não vemos as Parcas acabarem-nos. Por isso as esqueçamos Como se não houvessem. Colhendo flores ou ouvindo as fontes A vida passa como se temêssemos. Não nos vale pensarmos No futuro sabido Que aos nossos olhos tirará Apolo E nos porá longe de Ceres e onde Nenhum Pã cace à flauta Nenhuma branca ninfa. Só as horas serenas reservando Por nossas, companheiros na malícia De ir imitando os deuses Até sentir-lhe a calma. Venha depois com as suas cãs caídas A velhice, que os deuses concederam Que esta hora por ser sua Não sofra de Saturno Mas seja o templo onde sejamos deuses Inda que apenas, Lídia, pra nós próprios Nem precisam de crentes Os que de si o foram. Link to comment Share on other sites More sharing options...
Natti Posted September 29, 2004 Share Posted September 29, 2004 Não havia espaço para uma das minhas obras poéticas preferidas... deixo apenas o título e acho que basta... vão entender! Os Lusíadas, Luis Vaz de Camões I'm on a mission! Link to comment Share on other sites More sharing options...
Avózinha.Susto Posted September 29, 2004 Author Share Posted September 29, 2004 Ok.. eu queria dizer POEMAS, não as obras na sua totalidade. hehehehehe sorry! Link to comment Share on other sites More sharing options...
Ganeisha Posted September 29, 2004 Share Posted September 29, 2004 ui ui acho que vou encher este topico....heheheh...mas ainda n vai ser hoje, n me apetece <_< DJ Ganeisha Link to comment Share on other sites More sharing options...
Aerogel Posted September 29, 2004 Share Posted September 29, 2004 "Fui ao mar, apanhar mexilhões. Veio uma onda, molhou-me os tornozelos. Estava maré baixa!" Autor desconhecido mas bastante conhecedor da "Faina". Um dia ia eu na floresta, e apareces tu! Resolvi dar-te uma prenda... E que rica prenda! In the 60's people took acid to make the world weird. Now the world is weird and people take prozac to make it normal. Vamos todos tomar o ácido às 23:59 e não se esqueçam dos toalhetes húmidos para limpar as mãos depois dos camarões. Ignorando activamente: 9 users! Link to comment Share on other sites More sharing options...
Natti Posted September 29, 2004 Share Posted September 29, 2004 Ok.. eu queria dizer POEMAS, não as obras na sua totalidade. hehehehehe sorry! Ok, mas Os Lusiadas são um poema... só que é um bocadinho grande... só um bocadinho! I'm on a mission! Link to comment Share on other sites More sharing options...
M&Ms Posted October 11, 2004 Share Posted October 11, 2004 Ora aqui vai um dos que mais vezes leio e releio e lembro e relembro: AOS AMIGOS Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado. Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos, com os livros atrás a arder para toda a eternidade. Não os chamo, e eles voltam-se profundamente dentro do fogo. – Temos um talento doloroso e obscuro. Construímos um lugar de silêncio. De paixão. Herberto Helder "INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT http://soundcloud.com/m-ms/interval-origami-sound Link to comment Share on other sites More sharing options...
Huanita Posted October 11, 2004 Share Posted October 11, 2004 AOS AMIGOS Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado. Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos, com os livros atrás a arder para toda a eternidade. Não os chamo, e eles voltam-se profundamente dentro do fogo. – Temos um talento doloroso e obscuro. Construímos um lugar de silêncio. De paixão. Herberto Helder :toosad: Um poema como este, hoje, só p chorar.... :sadd: Nothing happens unless there is first a dREAM Link to comment Share on other sites More sharing options...
Ganeisha Posted October 11, 2004 Share Posted October 11, 2004 Quando sentes que sentes dor? Quando choras? Quando cais? Nada disso é dor, apenas algo sentido. Dor é sentir e pensar, sem se poder fazer isso. Olhar para o mar negro Ver o sol a pôr-se Sentir o vento gelado na tua cara Falar para alguém que não ouve. Ninguém sabe o que é dor A não ser aquelas pessoas Aqueles ninguém Que olham, sentem, vêem e falam. Quando sentes que sentes dor? Talvez nunca, talvez sempre Talvez morras sem a conhecer Talvez vivas com ela presente. DJ Ganeisha Link to comment Share on other sites More sharing options...
M&Ms Posted October 11, 2004 Share Posted October 11, 2004 Raquel, gosto muito daquele texto do António Ramos Rosa que puseste no "o que os outros dizem", espero que gostes deste: Um gesto que procura a origem de si próprio como a respiração do que não tem lugar dentro de si Não procures tocar a estátua adormecida na sua imobilidade indivisível porque a palavra não é mais do que a passagem e ela não toca senão o espaço que começa como se a manhã fosse nascer em ti A momentânea margem do impossível é o horizonte de um olhar que se despoja até não ser mais do que o movimento do caminho em que se apagam as palavras como palpebras no silêncio A.R.R. e esse ultimo é de quem? <_< "INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT http://soundcloud.com/m-ms/interval-origami-sound Link to comment Share on other sites More sharing options...
Ganeisha Posted October 11, 2004 Share Posted October 11, 2004 Adorei Martim! Eu so tinha aquele que vi num site mas n tenho mais nenhum dele, por acaso não sabes o titulo de algum livro dele. Adorava ter um! Este último é meu podes ver mais meus aki http://www.escritacriativa.com DJ Ganeisha Link to comment Share on other sites More sharing options...
M&Ms Posted October 11, 2004 Share Posted October 11, 2004 Xiii tantos...o homem é uma makina a escrever... agora assim de repente..."A Intacta Ferida" donde está está este que transcrevi! É da Relogio d'água. escritacreativa? hummm... vou ver isso! <_< "INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT http://soundcloud.com/m-ms/interval-origami-sound Link to comment Share on other sites More sharing options...
Huanita Posted October 11, 2004 Share Posted October 11, 2004 Adorei Martim! Eu so tinha aquele que vi num site mas n tenho mais nenhum dele, por acaso não sabes o titulo de algum livro dele. Adorava ter um! Este último é meu podes ver mais meus aki http://www.escritacriativa.com "os passos em volta", Herberto herlder, Ed. Assírio e Alvim É muito bonito raquel, são contos, não é poesia. Mas vale bem a pena! Nothing happens unless there is first a dREAM Link to comment Share on other sites More sharing options...
Huanita Posted October 11, 2004 Share Posted October 11, 2004 Adorei Martim! Eu so tinha aquele que vi num site mas n tenho mais nenhum dele, por acaso não sabes o titulo de algum livro dele. Adorava ter um! Este último é meu podes ver mais meus aki http://www.escritacriativa.com "os passos em volta", Herberto herlder, Ed. Assírio e Alvim É muito bonito raquel, são contos, não é poesia. Mas vale bem a pena! Ah, ya, tavas a falar do Alberto ramos Rosa! Tou ca gripe, a minha cabeça tá a 20%! Nothing happens unless there is first a dREAM Link to comment Share on other sites More sharing options...
Ganeisha Posted October 12, 2004 Share Posted October 12, 2004 hehehe Huanita Helberto Helder já tenho um , mas acho que não é esse que indicaste por isso também vou investigar esse. Que bom! Adoro que me digam nomes de livros para eu ir investigar! Thanks*** DJ Ganeisha Link to comment Share on other sites More sharing options...
M&Ms Posted October 12, 2004 Share Posted October 12, 2004 "os passos em volta", Herberto herlder, Ed. Assírio e Alvim Excelente esse livro de contos poéticos! "INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT http://soundcloud.com/m-ms/interval-origami-sound Link to comment Share on other sites More sharing options...
harekrishna Posted October 12, 2004 Share Posted October 12, 2004 AMOR Pediram-me para de Amor falar Algo que a mim não se devia pedir Mas mesmo assim vou tentar Sabendo que é mais difícil falar que sentir Pediram-me para de Amor falar Como gostava agora de ser o Camões Que tinha o dom de nos maravilhar Com os desígnios dos nossos corações Existem vários tipos de Amor Oiço por vezes alguém dizer Mas eu só quero sentir o calor Daquele que me faz viver Por vezes está aqui tão perto Outras nem se lhe pode chegar Mas dele quero estar coberto Quando a luz da manhã chegar Amor é fogo que arde sem se ver Talvez o poeta tivesse razão Mas até agora estou sem saber Se queima mais a alma ou o coração Já por muitos sítios andei E algo te posso garantir Em todo o lado encontrei O sentimento do Amor a florir É como ir á lua sem foguetão Numa viagem alucinante e atribulada Nunca sabendo como ficará o coração Depois de uma aterragem forçada É uma poção mágica com que me embriago Muitas vezes contra o meu próprio querer Basta simplesmente um pequeno trago Para este coração forte começar a bater Por vezes vamos por ele a passar Outras vezes passa ele por nós Mas por muito que o queiramos guardar No fim ficaremos sempre sós Mas nada disto me importa Nada disto quero eu saber Porque quando ele me bate á porta De braços abertos o vou receber Autor desconhecido Link to comment Share on other sites More sharing options...
Iris Posted October 12, 2004 Share Posted October 12, 2004 Um gesto que procura a origem de si próprio como a respiração do que não tem lugar dentro de si. Antonio Ramos Rosa " A vidA é umA festA" Link to comment Share on other sites More sharing options...
Iris Posted October 12, 2004 Share Posted October 12, 2004 Algo se priva de ser em cada coisa para que essa coisa seja e a palavra só vive se reserva o que diz no desejo de dizer. Antonio Ramos Rosa " A vidA é umA festA" Link to comment Share on other sites More sharing options...
moleirinho Posted November 10, 2004 Share Posted November 10, 2004 Amigo Mal nos conhecemos Inaugurámos a palavra «amigo». «Amigo» é um sorriso De boca em boca, Um olhar bem limpo, Uma casa, mesmo modesta, que se oferece, Um coração pronto a pulsar Na nossa mão! «Amigo» (recordam-se, vocês aí, Escrupulosos detritos?) «Amigo» é o contrário de inimigo! «Amigo» é o erro corrigido, Não o erro perseguido, explorado, É a verdade partilhada, praticada. «Amigo» é a solidão derrotada! «Amigo» é uma grande tarefa, Um trabalho sem fim, Um espaço útil, um tempo fértil, «Amigo» vai ser, é já uma grande festa! Alexandre O’Neill, in No Reino da Dinamarc http://marlene.moleirinho.name http://psyface.com http://goagadarmagazine.com http://quantic-chill.com "Our job as psychedelic thinkers is to do everything we can to nudge our culture into a more Gaian state of mind". Lawrence Hagerty Link to comment Share on other sites More sharing options...
kaya Posted November 10, 2004 Share Posted November 10, 2004 AMIZADE Dou-te tudo o que tenho: O astro que dormita O manto dos crepúsculos da tarde O sol que é de oiro A onda que palpita "Florbela Espanca" hugsnkisses Link to comment Share on other sites More sharing options...
moleirinho Posted November 12, 2004 Share Posted November 12, 2004 .-) http://marlene.moleirinho.name http://psyface.com http://goagadarmagazine.com http://quantic-chill.com "Our job as psychedelic thinkers is to do everything we can to nudge our culture into a more Gaian state of mind". Lawrence Hagerty Link to comment Share on other sites More sharing options...
moleirinho Posted November 25, 2004 Share Posted November 25, 2004 Mude Edson Marques Mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade. Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa. Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa. Tome outros ônibus. Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os teus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos. Veja o mundo de outras perspectivas. Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros, Viva outros romances. Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo. Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua. Corrija a postura. Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias. Tente o novo todo dia. o novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor. a nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações. Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida compre pão em outra padaria. Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa. Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... tome banho em novos horários. Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares. Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes. Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias. Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores. Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus. Mude. Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano. Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo. E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez. Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda ! "Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena" (Clarice Lispector) http://marlene.moleirinho.name http://psyface.com http://goagadarmagazine.com http://quantic-chill.com "Our job as psychedelic thinkers is to do everything we can to nudge our culture into a more Gaian state of mind". Lawrence Hagerty Link to comment Share on other sites More sharing options...
moleirinho Posted December 13, 2004 Share Posted December 13, 2004 Micheliny Verunschk Da rotina Varrer o dia de ontem que ainda resta pela casa, o dia, que persiste, quase invisível, pelo chão, nos objetos, sobre os móveis da sala. varrer amanhã, o pó de hoje. varrer. varrer hoje. (e domingo quebrar os dentes o copo e sua água de vidro ... segunda, não esquecer : varrer todos os vestígios). http://marlene.moleirinho.name http://psyface.com http://goagadarmagazine.com http://quantic-chill.com "Our job as psychedelic thinkers is to do everything we can to nudge our culture into a more Gaian state of mind". Lawrence Hagerty Link to comment Share on other sites More sharing options...
Ganeisha Posted January 6, 2005 Share Posted January 6, 2005 Quem morre? Morre lentamente Quem se transforma em escravo do hábito, Repetindo todos os dias os mesmos trajectos, Quem não muda de marca, Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem faz da televisão seu guru. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções. Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com os seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve musica, quem não encontra graça em si mesmo. Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade. Pablo Neruda DJ Ganeisha Link to comment Share on other sites More sharing options...
moleirinho Posted February 2, 2005 Share Posted February 2, 2005 ASTRONOMIA Vou buscar uma das estrelas que caiu do céu, esta noite. Ficou presa a um ramo de árvore, mas só ela brilha, único fruto luminoso do verão passado. Ponho-a num frasco, para não se oxidar; e vejo apagar-se, contra o vidro, à medida que o dia se aproxima, e o mundo desperta da noite. Não se pode guardar uma estrela. O seu lugar é no meio de constelações e nuvens, onde o sonho a protege. Por isso, tirei a estrela do frasco e meti-a no poema, onde voltou a brilhar, no meio de palavras, de versos, de imagens. Nuno Júdice http://marlene.moleirinho.name http://psyface.com http://goagadarmagazine.com http://quantic-chill.com "Our job as psychedelic thinkers is to do everything we can to nudge our culture into a more Gaian state of mind". Lawrence Hagerty Link to comment Share on other sites More sharing options...
moleirinho Posted February 18, 2005 Share Posted February 18, 2005 Eugénio de Andrade Já alguém sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo? Já. E tomar a forma dos objectos? Sim. E acender relâmpagos no pensamento? Também. E às vezes parecer ser o fim? Exactamente. Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima? Tal e qual. E depois mostrar-nos o que há-de vir muito melhor do que está? E dar-nos a cheirar uma cor que nos faz seguir viagem sem paragem nem resignação? E sentirmo-nos empurrados pelos rins na aula de descer abismos e fazer dos abismos descidas de recreio e covas de encher novidade? E de uns fazer gigantes e de outros alienados? E fazer frente ao impossível atrevidamente e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe a ponto do impossível ficar possível? E quando tudo parece perfeito poder-se ir ainda mais além? E isto de desencantar vidas http://marlene.moleirinho.name http://psyface.com http://goagadarmagazine.com http://quantic-chill.com "Our job as psychedelic thinkers is to do everything we can to nudge our culture into a more Gaian state of mind". Lawrence Hagerty Link to comment Share on other sites More sharing options...
zee Posted February 24, 2005 Share Posted February 24, 2005 POEMA SÉRIO Quer seja curto ou comprido, Quer seja fino ou mais grosso, É um órgão muito querido, Por não ter espinha, nem osso. De incalculável valor, Ninguém tem um a mais, E desempenha no amor, Um dos papéis principais. Quando uma dama lhe toca, Ei-lo a pular com fervor, Se for um rapaz, estremece, Se for velho, tem menos vigor. O seu nome não é tão feio, Pois tem sete letrinhas só, tem um R e um A no meio, Começa em C e acaba em O. Nunca se encontra sozinho, Vive sempre acompanhado, Por outros dois orgãozinhos, Bem junto de si, lado a lado. O nome destes, porém, Não gera confusões, Tem sete letras também, Tem L e acaba em ÕES. Pra acabar com o embalo, E com as más impressões, Os órgãos de que eu falo... São o coração e os pulmões! Pensavas que era o quê? Mente Poluída !!! Vai rezar, vai !!! "Atenção em vez de eficiencia, fluxo suave em vez de velocidade" Link to comment Share on other sites More sharing options...
moleirinho Posted April 18, 2005 Share Posted April 18, 2005 Há Dias Há dias em que julgamos que todo o lixo do mundo nos cai em cima depois ao chegarmos à varanda avistamos as crianças correndo no molhe enquanto cantam não lhes sei o nome uma ou outra parece-me comigo quero eu dizer : com o que fui quando cheguei a ser luminosa presença da graça ou da alegria um sorriso abre-se então num verão antigo e dura dura ainda. Eugénio de Andrade http://marlene.moleirinho.name http://psyface.com http://goagadarmagazine.com http://quantic-chill.com "Our job as psychedelic thinkers is to do everything we can to nudge our culture into a more Gaian state of mind". Lawrence Hagerty Link to comment Share on other sites More sharing options...
Cookie Posted April 20, 2005 Share Posted April 20, 2005 Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses. Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassosegos grandes. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar. Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o. Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento - Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada, Pagãos inocentes da decadência. Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos Nem fomos mais do que crianças. E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio, Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio, Pagã triste e com flores no regaço. Ricardo Reis É lindo sim senhor. Obrigado por partilhares. Nada é permanente, salvo a mudança! Link to comment Share on other sites More sharing options...
Avózinha.Susto Posted April 21, 2005 Author Share Posted April 21, 2005 Link to comment Share on other sites More sharing options...
Cookie Posted May 4, 2005 Share Posted May 4, 2005 Quem morre?Morre lentamente Quem se transforma em escravo do hábito, Repetindo todos os dias os mesmos trajectos, Quem não muda de marca, Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem faz da televisão seu guru. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções. Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com os seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve musica, quem não encontra graça em si mesmo. Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade. Pablo Neruda Sem dúvida adoro Pablo Neruda (partilhado em tempos pelo Psytrix).. E acreditem meus amigos apartir de hoje deixei de morrer lentamente... FARTEI-ME!! Nada é permanente, salvo a mudança! Link to comment Share on other sites More sharing options...
Ambar Posted May 8, 2005 Share Posted May 8, 2005 A arte de ser feliz Cecília Meirelles Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim A única certeza que tenho é não ter certezas. "... e no fundo isto é tudo uma grande brincadeira!" Link to comment Share on other sites More sharing options...
gypsia Posted June 9, 2005 Share Posted June 9, 2005 " A coexistência pacífica entre as pessoas é tão fácil como impossível. Vidas de violino Cordas de rabecão." Jorge Amorim quem inventou a distância não sabia o que era a saudade Link to comment Share on other sites More sharing options...
HappyStar Posted November 25, 2005 Share Posted November 25, 2005 "Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. que posso evitar que ela vá a falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..." (Fernando Pessoa) É lindo! Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted December 12, 2006 Share Posted December 12, 2006 Matematica lirica "Millor Fernandes" Um Quociente apaixonou-se Um dia Doidamente Por uma Incógnita. Olhou-a com seu olhar inumerável E viu-a, do Ápice à Base... Uma Figura Ímpar; Olhos rombóides, boca trapezóide, Corpo ortogonal, seios esferóides. Fez da sua Uma vida Paralela a dela. Até que se encontraram No Infinito. "Quem és tu?" indagou ele Com ânsia radical. "Sou a soma do quadrado dos catetos. Mas pode me chamar de Hipotenusa." E de falarem descobriram que eram - O que, em aritmética, corresponde A almas irmãs - Primos-entre-si. E assim se amaram Ao quadrado da velocidade da luz. Numa sexta potenciação Traçando Ao sabor do momento E da paixão Rectas, curvas, círculos e linhas senoidais. Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas E os exegetas do Universo Finito. Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. E, enfim, resolveram se casar Constituir um lar. Mais que um lar. Uma Perpendicular. Convidaram para padrinhos O Poliedro e a Bissectriz. E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro Sonhando com uma felicidade Integral E diferencial. E se casaram e tiveram uma secante e três cones Muito engraçadinhos. E foram felizes Até aquele dia Em que tudo, afinal, Vira monotonia. Foi então que surgiu O Máximo Divisor Comum... Frequentador de Círculos Concêntricos. Viciosos. Ofereceu-lhe, a ela, Uma Grandeza Absoluta, E reduziu-a a um Denominador Comum. Ele, Quociente, percebeu Que com ela não formava mais Um Todo. Uma Unidade. Era o Triângulo, Tanto chamado amoroso. Desse problema ela era a fracção Mais ordinária. Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade. E tudo que era espúrio passou a ser Moralidade Como aliás, em qualquer Sociedade. O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
PsyChristian Posted January 4, 2007 Share Posted January 4, 2007 Deixo aqui a biografia da minha tia avo e uns poemas CURRICULUM Maria Ivone de Jesus Pinto Manteigueiro Vairinho nasceu na cidade da Covilhã. Foi aluna da Escola Industrial e Comercial Campos Melo, tendo sido a melhor finalista do seu curso e a melhor aluna da Escola. Completou os cursos de "Formação Geral do Comércio" e "Complementar do Comércio". Cursos do Instituto Britânico e da Alliance Française É diplomada pela Escola Pittea em estenografia portuguesa, francesa e inglesa. Ainda espera concluir o curso de Literatura Portuguesa, que interrompeu por doença grave. Durante 39 anos, foi funcionária da Sacor , depois Petrogal (hoje Galp Energia) devido à fusão de quatro empresas - Sacor, Sonap, Cidla e Petrosul. Tem muito orgulho na sua carreira profissional, pois foi sempre promovida através de concursos internos e externos, terminando a sua carreira profissional como Secretária do Conselho de Administração. LITERÁRIO Desde muito nova (15 anos) começou a escrever contos, peças de teatro, autos de Natal e poemas, que foram publicados em diversos jornais e revistas, tendo ganho quatro primeiros prémios em contos (Kemba, a Gazela; Folhas Soltas do meu Diário, Conto de Natal e Carta de Amor para Minha Mãe) e uma menção honrosa em Poesia Lírica no I Concurso Literário da SACOR.. Traduziu muitos livros de Espanhol, Francês e Inglês (entre eles a série Dallas da Televisão e Robinson Crusoe). Obras publicadas: ROMANCES Linhas Trocadas, Amor Cigano (1ª e 2ª Edição), Humilhação de Amor, Uma Mulher Moderna (esgotados) POESIA Livro da Dor e da Esperança ( VEGA - Outubro de 1999 - com prefácio de António Alçada Baptista). Foi colaboradora da "Crónica Feminina", nos seus anos de ouro, desde 1957 a 1982. Também foi colaboradora do jornal "Poetas & Trovadores" e participou em 8 Antologias da ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE POETAS. Tem muitos poemas publicados no Notícias da Covilhã, Cyberletter, revista da APAE-Campos Melo e Boletim da Associação Portuguesa de Poetas A sua Bio-Bibliografia foi incluída no livro de José Mendes dos Santos "Escritores do Concelho da Covilhã" (página 196 - edição de 1997) Na Revista Cultural Florinda, edição da Câmara Municipal da Covilhã, no número dedicado aos Poetas do Concelho, foram publicados quatro poemas de sua autoria. O seu curriculum, mais alargado, foi incluído na rubrica "Artistas da nossa Terra", de Manuel Vaz Correia, que ao longo de dois anos foi publicada semanalmente no jornal "Notícias da Covilhã" e deu depois origem ao livro com o mesmo título, edição da Câmara Municipal da Covilhã, em 1998. MÃE-TERRA Anoitecia Quando cheguei. Cansada, triste, sozinha Entrei na casa sombria. O silêncio era palpável De um peso insustentável. A tua cadeira vazia Pareceu-me pesada, fria. Faltava-lhe a moldura Do teu sorriso Das tuas mãos Deformadas e velhinhas Onde morava o refúgio Para a minha solidão. A casa não era a mesma Tinhas levado contigo A alma e o coração. O silêncio fez-se maior. No corpo senti o gelo Das paredes de granito Tapei a boca A sufocar um grito. Todas as luzes abri O aquecimento liguei Mas nada me aquecia Havia hostilidade Na sala de ti vazia. A brancura das paredes Tinha uma luz crua Que quase me agredia. Na parede do quarto Donde fugira toda a luz O Cristo amargurado De espinhos coroado Pareceu passar para mim O peso da sua cruz. Meti-me na cama,gelada, Confusa, amargurada Triste, mais triste Que a noite mais escura. E o relógio compassado Ia descontando as horas Dum sono sobressaltado. De madrugada, O sol veio brincar Nas persianas descidas Pondo centelhas doiradas Na cal viva das paredes. Em ouro, foi desenhando, Na colcha da minha cama, Rendas de bilros delicadas. Um pássaro cantou No beiral do meu telhado No quintal o galo lançou Um cró-cró desafinado. Abri de par em par A janela do meu quarto E por ela vi entrar O azul intenso do céu (Lembrando os olhos teus) O ar puro da Serra A luz doirada do sol Das tílias o perfume O cheiro forte da terra. O Zêzere, lá ao fundo Era fita prateada As montanhas sentinelas No horizonte perfiladas. A casa encheu-se de luz O Cristo de espinhos coroado Com ar doce e resignado Retomou a sua cruz. À distância de um abraço Tinha uma doce velhinha Com olhos da cor do céu. Acordara de madrugada Sentira a minha chegada Esperava um beijo meu. Oh minha Mãe! Oh minha Terra| Conjugação do verbo amar Fonte da água viva Que dá forças para lutar. Também eu sou de granito Desafiando o infinito Mas em ti, junto de ti Reconciliada com a vida Já não me sinto perdida. Minha Mãe-Terra Meu útero, meu lar Abre-me os braços Dá-me o teu regaço Quero descansar. Maria Ivone Vairinho (Livro da Dor e da Esperança) Para quem quiser ler mais pode ir a http://ecosdapoesia.net/autores/mivonevairinho.htm Show me the way http://www.myspace.com/psychristian http://www.myspace.com/stereoconnectionpt Link to comment Share on other sites More sharing options...
Blacksun Posted April 19, 2007 Share Posted April 19, 2007 FilHoS Da vIDa... "Os vossos filhos nao sao vossos filhos. Sao filhos e filhas da ansia que a vida tem por si propria. Nascem atraves de vos, mas nao de vos, E apesar de estarem convosco, nao vos pertencem. Podeis dar-lhes o vosso amor, mas nao os vossos pensamentos, Pois eles tem os seus proprios pensamentos. Podeis acolher os seus corpos, mas nao as suas almas, Pois as suas almas moram na casa do amanha, que nao podeis visitar, nem nos vossos sonhos. Podeis lutar por ser como eles, mas nao tenteis torna-los como vos. Sois o arco dos quais vossos filhos sao lancados, quais flechas vivas. Deixai-vos retesar nas maos do archeiro com a mira na felicidade." -Kahlil Gibran, o Profeta Some say the end is near.Some say we'll see Armageddon soon. I certainly hope we will.I sure could use a vacation from this............ Link to comment Share on other sites More sharing options...
balayhashi Posted May 2, 2007 Share Posted May 2, 2007 TABACARIA Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida. Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa. Fui até ao campo com grandes propósitos. Mas lá encontrei só ervas e árvores, E quando havia gente era igual à outra. Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar? Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! Gênio? Neste momento Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu, E a história não marcará, quem sabe?, nem um, Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. Não, não creio em mim. Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando? Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, E quem sabe se realizáveis, Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? O mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, Ainda que não more nela; Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta, E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer em mim? Não, nem em nada. Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo, E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. Escravos cardíacos das estrelas, Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordamos e ele é opaco, Levantamo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. (Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei A caligrafia rápida destes versos, Pórtico partido para o Impossível. Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, Nobre ao menos no gesto largo com que atiro A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas, E fico em casa sem camisa. (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas, Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê - Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire! Meu coração é um balde despejado. Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco A mim mesmo e não encontro nada. Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, Vejo os cães que também existem, E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, E tudo isto é estrangeiro, como tudo.) Vivi, estudei, amei e até cri, E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu. Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente Fiz de mim o que não soube E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo E vou escrever esta história para provar que sou sublime. Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse, E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada. Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada E com o desconforto da alma mal-entendendo. Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra, Sempre o impossível tão estúpido como o real, Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra. Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?) E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. Semiergo-me enérgico, convencido, humano, E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário. Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. Sigo o fumo como uma rota própria, E gozo, num momento sensitivo e competente, A libertação de todas as especulações E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto. Depois deito-me para trás na cadeira E continuo fumando. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela. O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica. (O Dono da Tabacaria chegou à porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu. Álvaro de Campos Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted May 25, 2007 Share Posted May 25, 2007 DESEJO Do poeta Victor Hugo ” Desejo primeiro que você ame, E que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim, Mas se for, saiba ser sem desesperar. Desejo também que tenha amigos, Que mesmo maus e inconseqüentes, Sejam corajosos e fiéis, E que pelo menos num deles Você possa confiar sem duvidar. E porque a vida é assim, Desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, Mas na medida exata para que, algumas vezes, Você se interpele a respeito De suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, Para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo depois que você seja útil, Mas não insubstituível. E que nos maus momentos, Quando não restar mais nada, Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante, Não com os que erram pouco, porque isso é fácil, Mas com os que erram muito e irremediavelmente, E que fazendo bom uso dessa tolerância, Você sirva de exemplo aos outros. Desejo que você, sendo jovem, Não amadureça depressa demais, E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer E que sendo velho, não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós. Desejo por sinal que você seja triste, Não o ano todo, mas apenas um dia. Mas que nesse dia descubra Que o riso diário é bom, O riso habitual é insosso e o riso constante é insano. Desejo que você descubra, Com o máximo de urgência, Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos, Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta. Desejo ainda que você afague um gato, Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro Erguer triunfante o seu canto matinal Porque, assim, você se sentirá bem por nada. Desejo também que você plante uma semente, Por mais minúscula que seja, E acompanhe o seu crescimento, Para que você saiba de quantas Muitas vidas é feita uma árvore. Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, Porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano Coloque um pouco dele Na sua frente e diga "Isso é meu", Só para que fique bem claro quem é o dono de quem. Desejo também que nenhum de seus afetos morra, Por ele e por você, Mas que se morrer, você possa chorar Sem se lamentar e sofrer sem se culpar Desejo por fim que você sendo homem, Tenha uma boa mulher, E que sendo mulher, Tenha um bom homem E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes, E quando estiverem exaustos e sorridentes, Ainda haja amor para recomeçar. E se tudo isso acontecer, Não tenho mais nada a te desejar". O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
Ganeisha Posted May 25, 2007 Share Posted May 25, 2007 Porque Porque os outros se mascaram mas tu não Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão Porque os outros têm medo mas tu não Porque os outros são os túmulos caiados Onde germina calada a podridão. Porque os outros se calam mas tu não. Porque os outros se compram e se vendem E os seus gestos dão sempre dividendo. Porque os outros são hábeis mas tu não. Porque os outros vão à sombra dos abrigos E tu vais de mãos dadas com os perigos. Porque os outros calculam mas tu não. Sophia de Mello Breyner Andresen DJ Ganeisha Link to comment Share on other sites More sharing options...
Ganeisha Posted May 29, 2007 Share Posted May 29, 2007 Letra para um hino É possível falar sem um nó na garganta é possível amar sem que venham proibir é possível correr sem que seja fugir. Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta. É possível andar sem olhar para o chão é possível viver sem que seja de rastos. Os teus olhos nasceram para olhar os astros se te apetece dizer não grita comigo: não. É possível viver de outro modo. É possível transformares em arma a tua mão. É possível o amor. É possível o pão. É possível viver de pé. Não te deixes murchar. Não deixes que te domem. É possível viver sem fingir que se vive. É possível ser homem. É possível ser livre livre livre. Manuel Alegre DJ Ganeisha Link to comment Share on other sites More sharing options...
doubleD Posted September 2, 2007 Share Posted September 2, 2007 An indefinite color Spread itself around us as if it was destiny itself. The flaming sphere is gone. The everlasting process is tearing our thoughts Into the smallest fragments of existence. We will love once more, Our tears will once more be warmed by love. A long gaze into that grimness pulls the soul back into the past where it was spoken only about the future. Come away with me to that place Where the grass grows above us and we walk across the sky… Link to comment Share on other sites More sharing options...
Cookie Posted September 28, 2007 Share Posted September 28, 2007 LUA ADVERSA @ Cecília Meireles Tenho fases, como a lua Fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha. Fases que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases, como a lua...) No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu... Nada é permanente, salvo a mudança! Link to comment Share on other sites More sharing options...
Cookie Posted September 30, 2007 Share Posted September 30, 2007 outro de Pablo Neruda... É Proibido "É proibido chorar sem aprender, Levantar-se um dia sem saber o que fazer Ter medo de suas lembranças. É proibido não rir dos problemas Não lutar pelo que se quer, Abandonar tudo por medo, Não transformar sonhos em realidade. É proibido não demonstrar amor Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor. É proibido deixar os amigos Não tentar compreender o que viveram juntos Chamá-los somente quando necessita deles. É proibido não ser você mesmo diante das pessoas, Fingir que elas não te importam, Ser gentil só para que se lembrem de você, Esquecer aqueles que gostam de você. É proibido não fazer as coisas por si mesmo, Não crer em Deus e fazer seu destino, Ter medo da vida e de seus compromissos, Não viver cada dia como se fosse um último suspiro. É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar, Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram, Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente. É proibido não tentar compreender as pessoas, Pensar que as vidas deles valem mais que a sua, Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte. É proibido não criar sua história, Deixar de dar graças a Deus por sua vida, Não ter um momento para quem necessita de você, Não compreender que o que a vida te dá, também te tira. É proibido não buscar a felicidade, Não viver sua vida com uma atitude positiva, Não pensar que podemos ser melhores, Não sentir que sem você este mundo não seria igual." Nada é permanente, salvo a mudança! Link to comment Share on other sites More sharing options...
Dj Hybris Posted September 30, 2007 Share Posted September 30, 2007 É só poetas!!! Continuem, tou a curtir este momento Link to comment Share on other sites More sharing options...
good luck Posted October 1, 2007 Share Posted October 1, 2007 poetas e clones é o que nao falta por aqui Link to comment Share on other sites More sharing options...
Diogo Ribeiro Posted October 1, 2007 Share Posted October 1, 2007 Dylan Thomas (1914-1953) And Death Shall Have no Dominion And death shall have no dominion. Dead men naked they shall be one With the man in the wind and the west moon; When their bones are picked clean and the clean bones gone, They shall have stars at elbow and foot; Though they go mad they shall be sane, Though they sink through the sea they shall rise again; Though lovers be lost love shall not; And death shall have no dominion. And death shall have no dominion. Under the windings of the sea They lying long shall not die windily; Twisting on racks when sinews give way, Strapped to a wheel, yet they shall not break; Faith in their hands shall snap in two, And the unicorn evils run them through; Split all ends up they shan't crack; And death shall have no dominion. And death shall have no dominion. No more may gulls cry at their ears Or waves break loud on the seashores; Where blew a flower may a flower no more Lift its head to the blows of the rain; Though they be mad and dead as nails, Heads of the characters hammer through daisies; Break in the sun till the sun breaks down, And death shall have no dominion. http://soundcloud.com/diogo-ribeiro/diogo-ribeiro-folimat (24 Hours, Flow, Baroque, Tribal Vison) http://www.flow-bookings.com Diogo Ribeiro @ Sound Cloud Link to comment Share on other sites More sharing options...
Dj Hybris Posted October 1, 2007 Share Posted October 1, 2007 Organic Vibrations Link to comment Share on other sites More sharing options...
good luck Posted October 1, 2007 Share Posted October 1, 2007 m e m s vibrations Link to comment Share on other sites More sharing options...
Diogo Ribeiro Posted October 12, 2007 Share Posted October 12, 2007 Quem me dera ser chinelo para que tu me calçasses Para ir onde tu isses Para estar onde tu estasses http://soundcloud.com/diogo-ribeiro/diogo-ribeiro-folimat (24 Hours, Flow, Baroque, Tribal Vison) http://www.flow-bookings.com Diogo Ribeiro @ Sound Cloud Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted October 15, 2007 Share Posted October 15, 2007 Desejo à você... Fruto do mato Cheiro de jardim Namoro no portão Domingo sem chuva Segunda sem mal humor Sábado com seu amor Filme do Carlitos Chope com os amigos Crônica de Rubem Braga Viver sem inimigos Filme antigo na TV Ter uma pessoa especial E que ela goste de você Música de Tom com letra de Chico Frango caipira em pensão do interior Ouvir uma palavra amável Ter uma surpresa agradável Ver a banda passar Noite de lua cheia Rever uma velha amizade Ter fé em Deus Não ter que ouvir a palavra não Nem nunca, nem jamais e adeus. Rir como criança Ouvir canto de passarinho Sarar de resfriado Escrever um poema de amor Que nunca será rasgado Formar um par ideal Tomar banho de cachoeira Pegar um bronzeado legal Aprender uma nova canção Esperar alguém na estação Queijo com goiabada Pôr-do-sol na roça Uma festa Um violão Uma seresta Recordar um amor antigo Ter um ombro sempre amigo Bater palmas de alegria Uma tarde amena Calçar um velho chinelo Sentar numa velha poltrona Tocar violão para alguém Ouvir a chuva no telhado Vinho branco Bolero de Ravel E muito carinho meu. Carlos Drummond O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
lightsphere Posted October 16, 2007 Share Posted October 16, 2007 Aprendi que se aprende errando Que crescer não significa fazer aniversário Que o silêncio é a melhor resposta, quando se ouve uma bobagem Que trabalhar significa não só ganhar dinheiro Que amigos a gente conquista mostrando o que somos Que os verdadeiros amigos sempre ficam com você até o fim Que a maldade se esconde atrás de uma bela face Que não se espera a felicidade chegar, mas se procura por ela Que quando penso saber de tudo ainda não aprendi nada Que a Natureza é a coisa mais bela na Vida Que amar significa se dar por inteiro Que um só dia pode ser mais importante que muitos anos Que se pode conversar com estrelas Que se pode confessar com a Lua Que se pode viajar além do infinito Que ouvir uma palavra de carinho faz bem à saúde Que dar um carinho também faz... Que sonhar é preciso Que se deve ser criança a vida toda Que nosso ser é livre Que Deus não proíbe nada em nome do amor Que o julgamento alheio não é importante Que o que realmente importa é a Paz Interior E finalmente, aprendi que não se pode morrer, prá se aprender a viver... cta ( não tem nome ! ) ups.. isto rima ?? ... Tiago Fala com as pessoas. Link to comment Share on other sites More sharing options...
Nativ Posted October 30, 2007 Share Posted October 30, 2007 Quem me dera ser chinelo para que tu me calçasses Para ir onde tu isses Para estar onde tu estasses Link to comment Share on other sites More sharing options...
Nativ Posted October 30, 2007 Share Posted October 30, 2007 Site recomendado: http://www.fotografismo.com/ Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted November 9, 2007 Share Posted November 9, 2007 O POETA E A LUA Em meio a um cristal de ecos O poeta vai pela rua Seus olhos verdes de éter Abrem cavernas na lua. A lua volta de flanco Eriçada de luxúria O poeta, aloucado e branco Palpa as nádegas da lua. Entre as esfera nitente Tremeluzem pelos fulvos O poeta, de olhar dormente Entreabre o pente da lua. Em frouxos de luz e água Palpita a ferida crua O poeta todo se lava De palidez e doçura. Ardente e desesperada A lua vira em decúbito A vinda lenta do espasmo Aguça as pontas da lua. O poeta afaga-lhe os braços E o ventre que se menstrua A lua se curva em arco Num delírio de luxúria. O gozo aumenta de súbito Em frêmitos que perduram A lua vira o outro quarto E fica de frente, nua. O orgasmo desce do espaço Desfeito em estrelas e nuvens Nos ventos do mar perpassa Um salso cheiro de lua E a lua, no êxtase, cresce Se dilata e alteia e estua O poeta se deixa em prece Ante a beleza da lua. Depois a lua adormece E míngua e se apazigua... O poeta desaparece Envolto em cantos e plumas Enquanto a noite enlouquece No seu claustro de ciúmes. Vinícius de Morais O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
Nativ Posted December 3, 2007 Share Posted December 3, 2007 És cruz, és flor. Dos ventos sem direcção que não seja o centro. Sustentada pelos braços como amiga que chega. És orvalho e sangue para o corpo trespassado de sede. És árvore em silêncio onde escutamos a palavra em carne viva. És árvore inteira que te fizeste espelho. Amo-te Victor Cohen in http://www.starconsulte.com/poesia/grafismo/index.html Link to comment Share on other sites More sharing options...
Cookie Posted December 5, 2007 Share Posted December 5, 2007 Recomeçar... Não importa onde você parou... em que momento da vida você cansou...o que importa é que sempre é possível e necessário "Recomeçar". Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...é renovar as esperanças na vida e o mais importante... acreditar em você de novo. Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado... Chorou muito? Foi limpeza da alma... Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia... Sentiu-se só por diversas vezes? É porque fechaste a porta até para os anjos... Acreditou que tudo estava perdido? Era o início da tua melhora... Pois é...agora é hora de reiniciar...de pensar na luz...de encontrar prazer nas coisas simples de novo. Que tal um corte de cabelo arrojado... diferente? Roupas novas? Um novo curso... ou qualquer outra coisa. Olha quanto desafio...quanta coisa nova nesse mundo te esperando. Ta se sentindo sozinho? besteira... tem tanta gente que você afastou com o seu "período de isolamento"...tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu para" chegar" perto de você. Quando nos trancamos na tristeza... ficamos horríveis... o mau humor vai comendo nosso fígado...até a boca fica amarga. Recomeçar... Hoje é um bom dia para começar novos desafios. Onde você quer chegar? Vá alto... sonhe alto... queira o melhor do melhor... se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos pelo melhor... Só o melhor vai se instalar na nossa vida. E é hoje o dia da faxina mental... joga fora tudo que te prende ao passado...ao mundinho de coisas tristes... fotos... peças de roupa, bilhetes de viagens... e toda aquela tranqueira que guardamos...jogue tudo fora... mas principalmente...esvazie seu coração...e fique pronto pra VIDA! "Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que os outros me enxergam". Carlos Drummond Andrade Nada é permanente, salvo a mudança! Link to comment Share on other sites More sharing options...
riot Posted December 5, 2007 Share Posted December 5, 2007 exactamente cookie os outros só te enxergam como cookie mas tu tambem és a pyrosfilk, a bolachini e muitos outros clones nao divulgados por quem os deveria divulgar... és mesmo grande Link to comment Share on other sites More sharing options...
Rinkabrinka Posted January 12, 2008 Share Posted January 12, 2008 um poema de um dos poetas que mais gosto, Al Berto, Acendo um cigarro e falo com o meu coração: enterra o corpo na luz e na seiva da manhã, dorme. Sonha até que a noite regresse de novo ao sangue e desperte o canto dos astros. Diante de ti, pelos caminhos de terra e de água, os animais da noite aproximam-se luminescentes, falam-te em sussurro. A terra abre-se à subtilidade dos fogos. Um novo corpo surge no início imemorial do ouro e das geadas. Os animais são formas etéreas que se te colam à pele. Da humilde casa que habitámos pouco resta. As urzes irrompem dos alicerces, recortam-se no escuro, e as sombras dos frutos em contraluz formam geometrias e constelações. Um peixe brilha sobre as pedras, morto. Enumera os alimentos, o olho, o círculo das chamas, o limbo dos dias sem ninguém. Fala com os animais da noite, segreda-lhes o que em voz alta não é possivel dizer. Prepara o lume, solta as aves, adormece em cima do mar. Vai pelas dunas agrestes da manhã e canta. Canta, onde um rosto nómada te recorda o corpo vivo da noite que foste --- a fresca alba das galáxias. lindo. "..we're little bit of eternity, sticking into 3 dimensional space, and for some reason, ocupying time in a monkey body.." Link to comment Share on other sites More sharing options...
M&Ms Posted February 18, 2008 Share Posted February 18, 2008 "Tenho de escolher o que detesto - ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a ação, que a minha sensibilidade repugna; ou a ação, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu. Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas como hei-de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com outra." Bernardo soares aka F.P. "INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT http://soundcloud.com/m-ms/interval-origami-sound Link to comment Share on other sites More sharing options...
uber Posted February 18, 2008 Share Posted February 18, 2008 Ando a ler o livro do Desassossego tb!! Mas que mente.. Link to comment Share on other sites More sharing options...
uber Posted February 18, 2008 Share Posted February 18, 2008 "O mundo existe como um actor num palco: está lá mas é outra coisa." - Bernardo Soares Link to comment Share on other sites More sharing options...
M&Ms Posted February 18, 2008 Share Posted February 18, 2008 "Os poetas nunca mentem: falam é sempre de outra coisa" Fernando Grade "INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT http://soundcloud.com/m-ms/interval-origami-sound Link to comment Share on other sites More sharing options...
TR4D3R Posted March 1, 2008 Share Posted March 1, 2008 E assim aconteceu, amestrando ventos e tempestades Mares calmos em outros tempos, revoltos os são, agora que lhes foi sonegado o ar que os alimentava, Rugem como se fossem uma ferida aberta, em sua passagem, pois quando a natureza lhes prestar vassalagem, pouco haverá a fazer, O homem com o seu auto-conhecimento conseguido através da ciência, logra em ser deus, algo de absoluto, divino em si e nos seus actos, e que por tais pensamentos grandiosos, um dia serão julgados. Como podemos ser perfeitos se somos imperfeitos? O próprio sentido da vida, a fé, urge-se em instalar, para com indivíduos que num passado não muito distante exibiam-se como lobos solitários e de pensamentos livres, Proclamando sabedorias e conhecimento sem causa, mas, será que a juventude não consegue vincar os valores inerentes a qualquer homem de bem? Ou será que a sensação de poder e controlo se impõe, rasgando tudo o que nos moldou? O despotismo alastra-se, mascarado de várias liberdades, cresce envolto em sociedades individualizadas pela tecnologia ligando a ilusão de cada um a todos nós, sendo que ninguém sabe para onde caminha porque ninguém o quer saber, sociedades corrompidas pelo poder, a ganância, o controlo, tudo com uma ciência cada vez mais verosímil na capacidade de o homem se tornar o ser absoluto. Deleitamo-nos com a manipulação da vida, transformando a nossa condição humana a uns simples zeros e uns, apagando o acto de livre arbítrio que é a nossa criação, automatizados estamos na nossa vida por outros terem uma espécie de niilismo idílico reservado para todos nós. Rejeitamos todos os valores alcançados pelo amor, a paz, a felicidade, a prosperação de e para todos nós e não… A escravidão que nos é dada numa bandeja repleta de todos os nossos “queros”, “possos” e “mandos”, satisfazendo o nosso ego de materialismos subversivamente desejados, E embora as fantasias estejam repletas de utopias, elas não são mais do que um aperfeiçoamento da nossa imperfeição como seres, rejeitamo-nos como tal por procurar-mos o colectivismo soberano em vez do “eu” que cada vez é menos livre de se expressar no espaço global contemporâneo, e, se não acordarmos agora ao canto da sereia que nos embala, adormecidos ficaremos e padeceremos sob uma falsa noção de progresso para a humanidade. A violência é a arma dos impotentes!!! TR4D3R "The New World Order will be built an end run on national sovereignty all over the world. eroding it piece by piece will accomplish much more than the old fashioned fronter assault" Council on Foreign Relations "To protect the New Wold Order Americans will have to kill or die" Arthur Schlesinger CFR "We will have World Government either we like or no not" - Paul Walburg "In the next century countries as we know will be obsolete, all must recognize one wold government" Strobe Talbott antigo secretário de estado de Bill Clinton Link to comment Share on other sites More sharing options...
Erripúter Posted April 22, 2008 Share Posted April 22, 2008 Homens com gripe Pachos na testa, terço na mão, Uma botija, chá de limão, Zaragatoas, vinho com mel, Três aspirinas, creme na pele Grito de medo, chamo a mulher. Ai Lurdes que vou morrer. Mede-me a febre, olha-me a goela, Cala os miúdos, fecha a janela, Não quero canja, nem a salada, Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada. Se tu sonhasses como me sinto, vejo a morte nunca te minto, Já vejo o inferno, chamas, diabos, anjos estranhos, cornos e rabos, Vejo demónios nas suas danças Tigres sem listras, bodes sem tranças Choros de coruja, risos de grilo Ai Lurdes, Lurdes fica comigo Não é o pingo de uma torneira, Põe-me a Santinha à cabeceira, Compõe-me a colcha, Fala ao prior, Pousa o Jesus no cobertor. Chama o Doutor, passa a chamada, Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada. Faz-me tisanas e pão de ló, Não te levantes que fico só, Aqui sózinho a apodrecer, Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer. ANTÓNIO LOBO ANTUNES Bebam lá leite, vá!.... . Link to comment Share on other sites More sharing options...
Maga Patalógika Posted May 20, 2008 Share Posted May 20, 2008 Autopsicografia O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas* que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. De Fernando Pessoa * dores Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted June 5, 2008 Share Posted June 5, 2008 VIVA A ÁGUA Escrito por Manoel Maria Barbosa du Bocage - Um clássico da literatura Portuguesa: A ÁGUA Meus senhores eu sou a água que lava a cara, que lava os olhos que lava a rata e os entrefolhos que lava a nabiça e os agriões que lava a piça e os colhões que lava as damas e o que está vago pois lava as mamas e por onde cago. Meus senhores aqui está a água que rega a salsa e o rabanete que lava a língua a quem faz minete que lava o chibo mesmo da rasca tira o cheiro a bacalhau da lasca que bebe o homem que bebe o cão que lava a cona e o berbigão Meus senhores aqui está a água que lava os olhos e os grelinhos que lava a cona e os paninhos que lava o sangue das grandes lutas que lava sérias e lava putas apaga o lume e o borralho e que lava as guelras ao caralho Meus senhores aqui está a água que rega as rosas e os manjericos que lava o bidé, lava penicos tira mau cheiro das algibeiras dá de beber às fressureiras lava a tromba a qualquer fantoche e lava a boca depois de um broche. O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
Maga Patalógika Posted June 11, 2008 Share Posted June 11, 2008 António Gedeão Luísa sobe, sobe a calçada, sobe e não pode que vai cansada. Sobe, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe sobe a calçada. Saiu de casa de madrugada; regressa a casa é já noite fechada. Na mão grosseira, de pele queimada, leva a lancheira desengonçada. Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Luísa é nova, desenxovalhada, tem perna gorda, bem torneada. Ferve-lhe o sangue de afogueada; saltam-lhe os peitos na caminhada. Anda, Luísa. Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Passam magalas, rapaziada, palpam-lhe as coxas não dá por nada. Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Chegou a casa não disse nada. Pegou na filha, deu-lhe a mamada; bebeu a sopa numa golada; lavou a loiça, varreu a escada; deu jeito à casa desarranjada; coseu a roupa já remendada; despiu-se à pressa, desinteressada; caiu na cama de uma assentada; chegou o homem, viu-a deitada; serviu-se dela, não deu por nada. Anda, Luísa. Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Na manhã débil, sem alvorada, salta da cama, desembestada; puxa da filha, dá-lhe a mamada; veste-se à pressa, desengonçada; anda, ciranda, desaustinada; range o soalho a cada passada, salta para a rua, corre açodada, galga o passeio, desce o passeio, desce a calçada, chega à oficina à hora marcada, puxa que puxa, larga que larga,[x 4] toca a sineta na hora aprazada, corre à cantina, volta à toada, puxa que puxa, larga que larga,[x 4] Regressa a casa é já noite fechada. Luísa arqueja pela calçada. Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada, [x 3] Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Link to comment Share on other sites More sharing options...
M&Ms Posted June 30, 2008 Share Posted June 30, 2008 "Conheci um homem que possuía uma cabeça de vidro. Víamos -pelo lado menos sombrio do pensamento- todo o sistema planetário. Víamos o tremelicar da luz nas veias e o lodo das emoções na ponta dos dedos.O latejar do tempo na humidade dos lábios. E a insónia ,com seus anéis de luas quebradas e espermas ressequidos.As estrelas mortas das cidades imaginadas. Os ossos (tristes) das palavras. A noite cerca a mão inteligente do homem que possui uma cabeça transparente. Em redor dele chove. Podemos adivinhar um chuva espessa,negra,plúmbea. Depois, o homem abre a mão, uma laranja surge,esvoaça. As cidades(como em todos os livros que li) ardem.Incêndios que destroem o último coração do sonho. Mas aquele que se veste com a pele porosa da sua própria escrita olha,absorto,a laranja. A queda da laranja provocará o poema? A laranja voadora é ,ou não é,uma laranja imaginada por um louco? E um louco,saberá o que é uma laranja? E se a laranja cair?E o poema? E o poema com uma laranja a cair? E o poema em forma de laranja? E se eu comer a laranja,estarei a devorar o poema?A ficar louco? (...) E a palavra laranja existirá sem a laranja? E a laranja voará sem a palavra laranja? E se a laranja se iluminar a partir do seu centro, do seu gomo mais secreto,e alguém a (esquecer) no meio da noite-servirá(o brilho)da laranja para iluminar as cidades há muito mortas? E se a laranja se deslocar no espaço-mais depressa que o pensamento, e muito mais devagar que a laranja escrita-criará uma ordem ou um caos? O homem que possui uma cabeça de vidro habita o lado de fora das muralhas da cidade. Foi escorraçado. (E)na desolação das terras,noite dentro,vigia os seus próprios sonhos e pesadelos.Os seus próprios gestos-e um rosto suspenso na solidão. Onde mora o homem que ousou escrever com a unha na sua alma,no seu sexo,no seu coração? E se escreveu laranja na alma,a alma ficará saborosa? E se escreveu laranja no coração,a paixão impedi-lo-á de morrer? E se escreveu laranja no sexo, o desejo aumentará? Onde está a vida do homem que escreve, a vida da laranja,a vida do poema-a Vida,sem mais nada-estará aqui? Fora das muralhas da cidade? No interior do meu corpo? ou muito longe de mim-onde sei que possuo uma outra razão...e me suicido na tentativa de me transformar em poema e poder,enfim,circular livremente. De: O Medo Al Berto "INTERVAL" . ELECTRONIC, CINEMATIC & ACUSTIC AMBIENT http://soundcloud.com/m-ms/interval-origami-sound Link to comment Share on other sites More sharing options...
Celsius Decors Posted October 10, 2008 Share Posted October 10, 2008 Mr.Universo Tu que és o homem tão bom, tão bom...quase perfeito! Tu que és o Super-homem,o Batman e Homem-aranha. Ainda és o D. Juan, que deixa o mulheredo todo satisfeito. E até és mais que homem,mais que herói, mais que galã, Socorres as gajas todas, depois de as teres desfeito. Tu que és o tal, the one, numero uno, o talismã. Explica-me, porque vives a mentira de me teres feito... Esclarece-me da necessidade que tens de que todos pensem que fui tua Insistes em acreditar que... Eu olhei para ti num belo dia de sol e logo me apaixonei Que por ser tão pura, tentei te resistir, Que por seres tão bom, não fui capaz. E acabei por cair. Tu que és o ás, o campeão, a estrela, Vê lá se acordas dessa novela! Não vai acontecer nunca. Nunca me vais fazer. Não decides sozinho...como deves perceber! Assusta-me o facto de seres tão fantástico, Tenho medo da tua magnitude. Concordo que é estranha a minha atitude, Mas gosto de homenzinhos comuns, com defeitos... Amo homens que choram, que têm medo, que fraquejam Homens nem sempre satisfeitos. Desejo os que ás vezes mentem, os que por vezes fogem Que falam coisas banais, que gaguejam São esses que quero, são esses que comigo combinam. Tu, ó quase Deus, com a tua quase imortalidade Que vives nessa quase tua realidade Digo-te... e sabes que gosto de falar verdade, Se me esquecesses...davas-me quase a felicidade. Mafalda Roma Link to comment Share on other sites More sharing options...
Bluesense Posted October 17, 2008 Share Posted October 17, 2008 Opiário por Fernando Pessoa (heterônimo: Álvaro de Campos) Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro É antes do ópio que a minh'alma é doente. Sentir a vida convalesce e estiola E eu vou buscar ao ópio que consola Um Oriente ao oriente do Oriente. Esta vida de bordo há-de matar-me. São dias só de febre na cabeça E, por mais que procure até que adoeça, já não encontro a mola pra adaptar-me. Em paradoxo e incompetência astral Eu vivo a vincos de ouro a minha vida, Onda onde o pundonor é uma descida E os próprios gozos gânglios do meu mal. É por um mecanismo de desastres, Uma engrenagem com volantes falsos, Que passo entre visões de cadafalsos Num jardim onde há flores no ar, sem hastes. Vou cambaleando através do lavor Duma vida-interior de renda e laca. Tenho a impressão de ter em casa a faca Com que foi degolado o Precursor. Ando expiando um crime numa mala, Que um avô meu cometeu por requinte. Tenho os nervos na forca, vinte a vinte, E caí no ópio como numa vala. Ao toque adormecido da morfina Perco-me em transparências latejantes E numa noite cheia de brilhantes, Ergue-se a lua como a minha Sina. Eu, que fui sempre um mau estudante, agora Não faço mais que ver o navio ir Pelo canal de Suez a conduzir A minha vida, cânfora na aurora. Perdi os dias que já aproveitara. Trabalhei para ter só o cansaço Que é hoje em mim uma espécie de braço Que ao meu pescoço me sufoca e ampara. E fui criança como toda a gente. Nasci numa província portuguesa E tenho conhecido gente inglesa Que diz que eu sei inglês perfeitamente. Gostava de ter poemas e novelas Publicados por Plon e no Mercure, Mas é impossível que esta vida dure. Se nesta viagem nem houve procelas! A vida a bordo é uma coisa triste, Embora a gente se divirta às vezes. Falo com alemães, suecos e ingleses E a minha mágoa de viver persiste. Eu acho que não vale a pena ter Ido ao Oriente e visto a índia e a China. A terra é semelhante e pequenina E há só uma maneira de viver. Por isso eu tomo ópio. É um remédio Sou um convalescente do Momento. Moro no rés-do-chão do pensamento E ver passar a Vida faz-me tédio. Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim, Muito a leste não fosse o oeste já! Pra que fui visitar a Índia que há Se não há Índia senão a alma em mim? Sou desgraçado por meu morgadio. Os ciganos roubaram minha Sorte. Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte Um lugar que me abrigue do meu frio. Eu fingi que estudei engenharia. Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda. Meu coração é uma avòzinha que anda Pedindo esmola às portas da Alegria. Não chegues a Port-Said, navio de ferro! Volta à direita, nem eu sei para onde. Passo os dias no smokink-room com o conde - Um escroc francês, conde de fim de enterro. Volto à Europa descontente, e em sortes De vir a ser um poeta sonambólico. Eu sou monárquico mas não católico E gostava de ser as coisas fortes. Gostava de ter crenças e dinheiro, Ser vária gente insípida que vi. Hoje, afinal, não sou senão, aqui, Num navio qualquer um passageiro. Não tenho personalidade alguma. É mais notado que eu esse criado De bordo que tem um belo modo alçado De laird escocês há dias em jejum. Não posso estar em parte alguma. A minha Pátria é onde não estou. Sou doente e fraco. O comissário de bordo é velhaco. Viu-me co'a sueca... e o resto ele adivinha. Um dia faço escândalo cá a bordo, Só para dar que falar de mim aos mais. Não posso com a vida, e acho fatais As iras com que às vezes me debordo. Levo o dia a fumar, a beber coisas, Drogas americanas que entontecem, E eu já tão bêbado sem nada! Dessem Melhor cérebro aos meus nervos como rosas. Escrevo estas linhas. Parece impossível Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta! O fato é que esta vida é uma quinta Onde se aborrece uma alma sensível. Os ingleses são feitos pra existir. Não há gente como esta pra estar feita Com a Tranqüilidade. A gente deita Um vintém e sai um deles a sorrir. Pertenço a um gênero de portugueses Que depois de estar a Índia descoberta Ficaram sem trabalho. A morte é certa. Tenho pensado nisto muitas vezes. Leve o diabo a vida e a gente tê-la! Nem leio o livro à minha cabeceira. Enoja-me o Oriente. É uma esteira Que a gente enrola e deixa de ser bela. Caio no ópio por força. Lá querer Que eu leve a limpo uma vida destas Não se pode exigir. Almas honestas Com horas pra dormir e pra comer, Que um raio as parta! E isto afinal é inveja. Porque estes nervos são a minha morte. Não haver um navio que me transporte Para onde eu nada queira que o não veja! Ora! Eu cansava-me o mesmo modo. Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali Para sonhos que dessem cabo de mim E pregassem comigo nalgum lodo. Febre! Se isto que tenho não é febre, Não sei como é que se tem febre e sente. O fato essencial é que estou doente. Está corrida, amigos, esta lebre. Veio a noite. Tocou já a primeira Corneta, pra vestir para o jantar. Vida social por cima! Isso! E marchar Até que a gente saia pla coleira! Porque isto acaba mal e há-de haver (Olá!) sangue e um revólver lá pró fim Deste desassossego que há em mim E não há forma de se resolver. E quem me olhar, há-de-me achar banal, A mim e à minha vida... Ora! um rapaz... O meu próprio monóculo me faz Pertencer a um tipo universal. Ah quanta alma viverá, que ande metida Assim como eu na Linha, e como eu mística! Quantos sob a casaca característica Não terão como eu o horror à vida? Se ao menos eu por fora fosse tão Interessante como sou por dentro! Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro. Não fazer nada é a minha perdição. Um inútil. Mas é tão justo sê-lo! Pudesse a gente desprezar os outros E, ainda que co'os cotovelos rotos, Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo! Tenho vontade de levar as mãos À boca e morder nelas fundo e a mal. Era uma ocupação original E distraía os outros, os tais sãos. O absurdo, como uma flor da tal Índia Que não vim encontrar na Índia, nasce No meu cérebro farto de cansar-se. A minha vida mude-a Deus ou finde-a ... Deixe-me estar aqui, nesta cadeira, Até virem meter-me no caixão. Nasci pra mandarim de condição, Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira. Ah que bom que era ir daqui de caída Pra cova por um alçapão de estouro! A vida sabe-me a tabaco louro. Nunca fiz mais do que fumar a vida. E afinal o que quero é fé, é calma, E não ter estas sensações confusas. Deus que acabe com isto! Abra as eclusas — E basta de comédias na minh'alma! (No Canal de Suez, a bordo) = Too Much Happiness Make Kids Paranoid = Link to comment Share on other sites More sharing options...
shivaya_ Posted October 19, 2008 Share Posted October 19, 2008 "Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. que posso evitar que ela vá a falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..." (Fernando Pessoa) É lindo! O lema da minha vida... Link to comment Share on other sites More sharing options...
SunWarrior Posted November 4, 2008 Share Posted November 4, 2008 My God! Será que não conhecem este poema? Cântico Negro (José Régio) "Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidades! Não acompanhar ninguém. — Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre à minha mãe Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde Por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, E vós amais o que é fácil! Eu amo o Longe e a Miragem, Amo os abismos, as torrentes, os desertos... Ide! Tendes estradas, Tendes jardins, tendes canteiros, Tendes pátria, tendes tetos, E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... Eu tenho a minha Loucura ! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios... Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém! Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; Mas eu, que nunca principio nem acabo, Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. Ah, que ninguém me dê piedosas intenções, Ninguém me peça definições! Ninguém me diga: "vem por aqui"! A minha vida é um vendaval que se soltou, É uma onda que se alevantou, É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou Sei que não vou por aí! P.s: É perfeito... Evam maia e ma ho Salve a harmonia da mente e da natureza Anar kaluva tiellyana Que o sol brilhe no teu caminho ॐ Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted January 9, 2009 Share Posted January 9, 2009 Sabiam que o José Regio era doente Bipolar, mas não foi isso que me troxe aqui... foi para vós deixar este poema A Ministra vista por Bocage..... ah "ganda" Bocage Baixa, de olhos ruins, amarelenta Usando só de raiva e de impostura, Triste de facha, o mesmo de figura, Um mar de fel, malvada e quezilenta ; Arzinho confrangido que atormenta, Sempre infeliz e de má catadura, Mui perto de perder a compostura, É cruel, mentirosa e rabugenta. Rosto fechado, o gesto de fuinha, Voz de lamento e ar de coitadinha, Com pinta de raposa assustadinha, É só veneno, a ditadorazinha. Se não sabes quem é, dou-te uma pista: Prepotente, mui gélida e sinistra, Amarga, matreira e intriguista, Abusa do poder... e é MINISTRA. O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
ArSoX Posted January 9, 2009 Share Posted January 9, 2009 Um autor desconhecido, mas não sei porquê... gostei desta quadra: Eram grandes e sumarentas, Tiraram-lhes a vida, Estão velhas e engelhadas, De uvas passaram a passas. João Moreno. Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted January 9, 2009 Share Posted January 9, 2009 Sai-me da frente páh ... Sabiam que o José Regio era doente Bipolar, mas não foi isso que me troxe aqui... foi para vós deixar este poema A Ministra vista por Bocage..... ah "ganda" Bocage Baixa, de olhos ruins, amarelenta Usando só de raiva e de impostura, Triste de facha, o mesmo de figura, Um mar de fel, malvada e quezilenta ; Arzinho confrangido que atormenta, Sempre infeliz e de má catadura, Mui perto de perder a compostura, É cruel, mentirosa e rabugenta. Rosto fechado, o gesto de fuinha, Voz de lamento e ar de coitadinha, Com pinta de raposa assustadinha, É só veneno, a ditadorazinha. Se não sabes quem é, dou-te uma pista: Prepotente, mui gélida e sinistra, Amarga, matreira e intriguista, Abusa do poder... e é MINISTRA. O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
Erripúter Posted January 15, 2009 Share Posted January 15, 2009 A puta Quero conhecer a puta. A puta da cidade. A única. A fornecedora. Na rua de Baixo Onde é proibido passar. Onde o ar é vidro ardendo E labaredas torram a língua De quem disser: Eu quero A puta Quero a puta quero a puta. Ela arreganha dentes largos De longe. Na mata do cabelo Se abre toda, chupante Boca de mina amanteigada Quente. A puta quente. É preciso crescer esta noite inteira sem parar De crescer e querer A puta que não sabe O gosto do desejo do menino O gosto menino Que nem o menino Sabe, e quer saber, querendo a puta. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Bebam lá leite, vá!.... . Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted January 15, 2009 Share Posted January 15, 2009 muito bem Erripúter tou a ver que conheces o grande poeta brasileiro CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, e cá vai outra dele O QUE SE PASSA NA CAMA (O que se passa na cama é segredo de quem ama.) É segredo de quem ama não conhecer pela rama gozo que seja profundo, elaborado na terra e tão fora deste mundo que o corpo, encontrando o corpo e por ele navegando, atinge a paz de outro horto, noutro mundo: paz de morto, nirvana, sono do pênis. Ai, cama canção de cuna, dorme, menina, nanana, dorme onça suçuarana, dorme cândida vagina, dorme a última sirena ou a penúltima...O pênis dorme, puma, americana fera exausta. Dorme, fulva grinalda de tua vulva. E silenciem os que amam, entre lençol e cortina ainda úmidos de sêmen, estes segredos de cama. O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted March 24, 2009 Share Posted March 24, 2009 A poesia de Rui Barbosa (poeta brasileiro), apresentada a seguir, poderia ter sido escrita hoje, sem mudar uma palavra e em Portugal. Pois NUNCA ESTEVE TÃO ACTUAL ... SINTO VERGONHA DE MIM Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte deste povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra. Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-Mater da sociedade, a demasiada preocupação com o 'eu' feliz a qualquer custo, buscando a tal 'felicidade' em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo. Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos 'floreios' para justificar actos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre 'contestar', voltar atrás e mudar o futuro. Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer... Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir o meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar o meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo deste mundo! 'De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, A rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto'. Rui Barbosa O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
Ketsueki Posted April 22, 2009 Share Posted April 22, 2009 AINDA ASSIM, EU ME LEVANTO Você pode me riscar da História Com mentiras lançadas ao ar, Pode me jogar contra o chão de terra, Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar. Minha presença o incomoda? Por que meu brilha o intimida? Porque eu caminho como quem possui Riquezas dignas do grego Midas. Como a lua e como o sol no céu, Com a certeza da onda no mar, Como a esperança emergindo na desgraça, Assim eu vou me levantar. Você não queria me ver quebrada? Cabeça curvada e olhos para o chão? Ombros caídos como as lágrimas, Minh'alma enfraquecida pela solidão? Meu orgulho o ofende? Tenho certeza que sim Porque eu rio como quem possui Ouros escondidos em mim. Pode me atirar palavras afiadas, Dilacerar-me com seu olhar, Você pode me matar em nome do ódio, Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar. Minha sensualidade incomoda? Será que você se pergunta Porquê eu danço como se tivesse Um diamante onde as coxas se juntam? Da favela, da humilhação imposta pela cor Eu me levanto De um passado enraizado na dor Eu me levanto Sou um oceano negro, profundo na fé, Crescendo e expandindo-se como a maré. Deixando para trás noites de terror e atrocidade Eu me levanto Em direcção a um novo dia de intensa claridade Eu me levanto Trazendo comigo o dom de meus antepassados, Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado. E assim, eu me levanto Eu me levanto Eu me levanto. Maya Angelou Uma ave tem de voar, mesmo que o céu esteja cheio de abutres!!!... Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted May 15, 2009 Share Posted May 15, 2009 POEMA DA 'MENTE' Há um primeiro-ministro que mente, Mente de corpo e alma, completa/mente. E mente de maneira tão pungente Que a gente acha que ele, mente sincera/mente, Mas que mente, sobretudo, impune/mente... Indecente/mente. E mente tão nacional/mente, Que acha que mentindo história afora, Nos vai enganar eterna/mente. E eu acrescento que efectivamente está: Musicalmente correcto, actualmente certo e infelizmente verdadeiro. O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
zurkas Posted May 23, 2009 Share Posted May 23, 2009 Continuo à janela poluída Em dias sem fim, colados, trancados Interiores de fumo roxo, denso À espera do dia de voltar de mares revoltos, marés vivas, castanhas de espuma. Crianças sem medo. A coragem é um espelho... devolve-te o que lhe deres. Não largo o início Contrastes mentais, difusos... Agora, aqui, sou eu outra vez Amanhã... quem sabe o que serei! http://www.caisdetempo.blogspot.com/ Link to comment Share on other sites More sharing options...
Nosce te Ipsum Posted May 24, 2009 Share Posted May 24, 2009 ORAÇÃO Senhor Super consciência cósmica Consciência infinita Nosso criador Nós nos abrimos à vossa luz, À vossa Paz e à lucidez que emana de Vós. Senhor Super consciência cósmica Que um infinitésimo da vossa luz, Da Vossa Paz Do vosso amor, Possa penetrar as nossas pequenas consciências, Estabilizar o nosso campo e transformar os nossos dias. Ensinai-nos a ser simples, exactos. Ensinai-nos a unir-nos cada dia que passa de uma forma mais profunda com a tua realidade. Abri o nosso coração ao teu amor e ensinai-nos a cada dia que passa a ver melhor com os teus olhos. Ensinai-nos a percorrer um passo de cada vez e ajudai-nos a ver os obstáculos que realmente nos impedem de avançar. Senhor Super consciência cósmica Nós vos pedimos que um infinitésimo da vossa luz possa penetrar as nossas pequenas consciências e que uma fagulha do vosso amor venha habitar-nos e não mais se retire. Ensinai-nos a coragem, a ousadia, a serenidade, o bom senso, o equilíbrio e a paixão por tudo o que ainda não foi feito e está no nosso potencial profundo. A vós, sem defesas, sem disfarces, nós nos entregamos. Ensinai-nos a assumir esta nudez. Ensinai-nos a ser transparentes ao teu olhar e a ter a coragem de ver o ponto que não queremos ver. Dai-nos a força e a sabedoria de ver o ponto que nos impede de avançar. Simplificai a nossa vida Simplificai a nossa mente Simplificai as nossas emoções E ajudai-nos a encontrar o ponto de perfeito equilíbrio do qual podemos ser teu instrumento. Senhora Mãe divina Que a vossa luz possa descer a estas células e transformá-las Que a vossa luz possa descer a este pensamento e libertá-lo Que a vossa luz possa descer nesta tristeza, neste desencontro, nos nossos sentimentos confusos e revelar-me o mistério do amor que não tem nome nem objecto. Ensinai-nos a nos entregar a ti a cada dia de uma forma mais perfeita, mais exacta, mais profunda. "Advirto-te, quem quer que sejas. Oh tu! que desejas sondar os Mistérios da Natureza, que se não encontras dentro de ti mesmo aquilo que procuras, tampouco o poderás encontrar fora. Se tu ignoras as excelências da tua própria casa, como pretendes encontrar outras excelências? Em ti se encontra oculto o tesouro dos tesouros. Oh, Homem! conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses." Link to comment Share on other sites More sharing options...
EstralaBomba Posted May 24, 2009 Share Posted May 24, 2009 Subi a uma árvore para te ver, como não te vi, desci. Eu e o Figo em Espanha éramos legendas. Link to comment Share on other sites More sharing options...
_psycopath__ Posted January 3, 2010 Share Posted January 3, 2010 Quando sentes que sentes dor? Quando choras? Quando cais? Nada disso é dor, apenas algo sentido. Dor é sentir e pensar, sem se poder fazer isso. Olhar para o mar negro Ver o sol a pôr-se Sentir o vento gelado na tua cara Falar para alguém que não ouve. Ninguém sabe o que é dor A não ser aquelas pessoas Aqueles ninguém Que olham, sentem, vêem e falam. Quando sentes que sentes dor? Talvez nunca, talvez sempre Talvez morras sem a conhecer Talvez vivas com ela presente. Lindo Raquel Este toca-me. Não deixo obras que gosto mas sim as que crio. Espero que gostem. http://phantomwordsblog.blogspot.com/ --d(-_-)b-- Link to comment Share on other sites More sharing options...
_psycopath__ Posted January 3, 2010 Share Posted January 3, 2010 Quem me dera ser chinelo para que tu me calçasses Para ir onde tu isses Para estar onde tu estasses Esta partiu-me todooooo "Os poetas nunca mentem: falam é sempre de outra coisa" Fernando Grade Simplesmente genial! Autopsicografia O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas* que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. De Fernando Pessoa * dores LIndissimo!! Adorei ler este Subi a uma árvore para te ver, como não te vi, desci. levast binoculos? --d(-_-)b-- Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted February 9, 2010 Share Posted February 9, 2010 Poema erótico de Drummond de Andrade 'Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci. Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite. Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do teu corpo. Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta! ' O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
o-goid Posted February 26, 2010 Share Posted February 26, 2010 Acid dreams & Spanish Queens L'America (another?, lone?, voice) Asthma child, the fumidor Lamerica Duchess, rabbit, the woods by the road Lamerica Pearl Harbor-Shot of the road Lamerica Conceived in a beach Town Lamerica Relevance of beach or Lakes Lamerica Sinks, snakes, caves w/water Florida Homo/-sex/uality Lamerica Religion & the Family Lamerica Plane crash in the Eastern Woods Virginia Bailing-out over rice-fields Lamerica Guerrilla band inside the town Lamerica Bitter tree of consciousness Lamerica A fast car in the night-the road Lamerica Progress of The Good Disease Lamerica Morrison Link to comment Share on other sites More sharing options...
Aerogel Posted February 27, 2010 Share Posted February 27, 2010 Fui ao mar apanhar mexilhões veio uma onda molhou-me os tornozelos. Estava maré baixa. Um dia ia eu na floresta, e apareces tu! Resolvi dar-te uma prenda... E que rica prenda! In the 60's people took acid to make the world weird. Now the world is weird and people take prozac to make it normal. Vamos todos tomar o ácido às 23:59 e não se esqueçam dos toalhetes húmidos para limpar as mãos depois dos camarões. Ignorando activamente: 9 users! Link to comment Share on other sites More sharing options...
o-goid Posted February 27, 2010 Share Posted February 27, 2010 ehehehehehe à tua Aero Link to comment Share on other sites More sharing options...
FreeTo Posted September 9, 2010 Share Posted September 9, 2010 Quando a saudade aperta dou por mim nostalgico a relembrar o que passámos e que partilhamos algo magico dá-me um nó no coração quando me lembro da magia liberta pelo amor, tristezas e alegrias que juntos partilhámos em momentos negativos ou momentos de euforia que correm o dia-a-dia e nao me deixam duvidar o que a teu lado sentia o que sinto constantemente e meus futuros sentimentos quando a saudade aperta fecho os olhos por momentos esqueço o resto e desenho a tua imagem na minha mente olho para traz, pois tenho no coração guardado todos os momentos passados e vividos a teu lado paro o mundo por um bocado e sinto uma melancolia trazida pela saudade fico com a alma vazia e pergunto a mim proprio porque é que me fazes tanta falta é o que acontece quando a saudade aperta... Escrevi isto em 2007, não tenho muita paciencia para respeitar as metricas, mas pus um bom bocado de mim nesses versos =) Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted November 19, 2010 Share Posted November 19, 2010 Surge Janeiro frio e pardacento, Descem da serra os lobos ao povoado; Assentam-se os fantoches em São Bento E o Decreto da fome é publicado. Edita-se a novela do Orçamento; Cresce a miséria ao povo amordaçado; Mas os biltres do novo parlamento Usufruem seis contos de ordenado. E enquanto à fome o povo se estiola, Certo santo pupilo de Loyola, Mistura de judeu e de vilão, Também faz o pequeno "sacrifício" De trinta contos - só! - por seu ofício Receber, a bem dele... e da nação. JOSÉ RÉGIO Soneto escrito em 1969. Tão actual em 1969, como hoje... E depois ainda dizem que a tradição já não é o que era!! O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted March 16, 2011 Share Posted March 16, 2011 Poema de agradecimento à corja Obrigado, excelências. Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade de vivermos felizes e em paz. Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem dignidade. Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada. Por não nos darem explicações. Obrigado por se orgulharem de nos tirar as coisas por que lutámos e às quais temos direito. Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria. Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero. Obrigado pela vossa mediocridade. E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer. Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber. Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera. Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias um dia menos interessante que o anterior. Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar. Obrigado por nos darem em troca quase nada. Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade. Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço. E pelo vosso vergonhoso descaramento. Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer, o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar. Obrigado por serem o que são. Obrigado por serem como são. Para que não sejamos também assim. E para que possamos reconhecer facilmente quem temos de rejeitar. Joaquim Pessoa O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
Sorinz Posted March 27, 2011 Share Posted March 27, 2011 Pensar em Deus é Desobedecer a Deus Pensar em Deus é desobedecer a Deus, Porque Deus quis que o não conhecêssemos, Por isso se nos não mostrou... Sejamos simples e calmos, Como os regatos e as árvores, E Deus amar-nos-á fazendo de nós Belos como as árvores e os regatos, E dar-nos-á verdor na sua primavera, E um rio aonde ir ter quando acabemos! ... Alberto Caeiro All, everything that I understand, I understand only because I love. Link to comment Share on other sites More sharing options...
Sorinz Posted March 27, 2011 Share Posted March 27, 2011 Os Meus Pensamentos são Todos Sensações Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca. Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la E comer um fruto é saber-lhe o sentido. Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto. E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz. Alberto Caeiro. É sem dúvida o mestre, até porque a vida não é mais que isto All, everything that I understand, I understand only because I love. Link to comment Share on other sites More sharing options...
Psiconauta Posted March 29, 2011 Share Posted March 29, 2011 Crente é pouco Sê-te Deus E para tudo que é nada Inventa caminhos teus Agostinho da Silva Link to comment Share on other sites More sharing options...
Prótese Posted March 29, 2011 Share Posted March 29, 2011 Crente é pouco Sê-te Deus E para tudo que é nada Inventa caminhos teus Agostinho da Silva Nice one! Link to comment Share on other sites More sharing options...
Piteira Posted April 5, 2011 Share Posted April 5, 2011 Tens para mim o que me serve Tens que me sirva o que te serve Serve-me então na mesa o teu manjar Dá-me garfo e faca Dá-me mesa e onde sentar Vê-me agora ingerir…vê-me ingerir no agora O doce amargo sabor. Da madrugada. por Nuno Piteira (não gosto nada deste gajo) Eco Drums Lab http://ecodrumslab.blogspot.com Link to comment Share on other sites More sharing options...
Jimi_Triposo Posted April 7, 2011 Share Posted April 7, 2011 Este é que é o espaço da poesia, então aqui faço re-post TROVA DO TEMPO QUE PASSA Pergunto, ao tempo que passa, se há quem governe o País!... E o tempo mostra a desgraça, que o Governo desdiz!... Pergunto aos “boys” que levam a massa nas algibeiras e os “boys” ao roubo se entregam - levam tudo, sem maneiras!... Roubam sonhos, geram mágoas!... Ai pobre do meu País! Mergulhado em turvas águas, seu fim está por um triz!... Quem o pobre Povo esfola, pede meças a quem diz que um País, que pede esmola, continua a ser feliz!... Pergunto à fome, que grassa, por quem lhe roubou o pão. - Logo os golpes de trapaça dá como sendo a razão!... Vi florir grandes fortunas, com os montantes roubados, sem terem, como oportunas, punições para os culpados!... E o tempo não muda nada! Ninguém faz nada de novo! Vejo a pátria acabrunhada, com a cruz, que leva o Povo! Vejo a Pátria na voragem dos que andam a roubar, cobertos p’la sacanagem dos que dizem governar!.. Vejo gente a partir, Em busca doutras paragens, que lhe possam garantir a vida, com outras margens!... Há quem te queira enganada, ó Pátria do desalento e fale por ti, coitada! Entregue estás a um jumento!... E o tempo, em derrocada, num ruído cacofónico, vai aumentando a parada de delírio histriónico!... Ninguém faz nada de novo e o dinheiro vai fugindo!... Nas mãos vazias do Povo, fica a miséria florindo!... E a noite torna-se densa, de fantasmas e desdita!... Peço notícias ao tempo e ele só nos mortifica!... Há sempre uma alcateia, que agudiza a desgraça! Há sempre alguém que semeia injustiça e trapaça!... Neste tempo de trapaça, com personagens tão vis, só mesmo com arruaça, p’ra lhes partir o nariz!... Mesmo na noite mais triste, em tempo de podridão, Sócrates ainda resiste, com a lábia de aldrabão!... Manuel Triste, em "O canto e os sarnas" 24/01/2011 O amor é melhor do que a paz. Eu sou pelo amor... Link to comment Share on other sites More sharing options...
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