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Ano Novo. Economia Nova


izanami
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Ano novo, economia nova

 

A mudança de ano significa para alguns mudar de atitude e o empenhamento é a palavra de ordem, numa tentativa de contrariar o propalado desânimo dos portugueses. Sem olhar para trás, "Ano novo, vida nova" é um cliché que brinda as reacções dos mais optimistas, os que mantêm o ânimo elevado (que os portugueses bem precisam!) apesar de todos os reveses. Com a economia do país continuamente em maus lençóis, resta saber se a mais intrépida das esperanças não tenderá a empalidecer.

 

Segundo o barómetro do Observador Cetelem - organismo que realiza estudos anuais sobre consumo e distribuição e integra o Banco Cetelem, que opera no mercado português desde 1993 como especialista de crédito ao consumo - os portugueses são os mais desmoralizados e pessimistas entre doze dos países europeus, revelando-se também os mais inquietos quanto ao futuro, apesar de terem poucas intenções de poupar. Aliás, foi recentemente notícia que os portugueses são, a par dos norte-americanos, os que poupam menos dinheiro. Portugal é também o quarto país da Europa onde mais se usa o cartão VISA para pagar os consumos.

 

O moral dos portugueses - avaliado em 3,03 numa escala de dez - distancia-se da média europeia, que se manteve nos 4,68 em 2005 - com a Bélgica a mostrar-se a mais optimista (com 5,89), seguida da Espanha (com 5,64).

 

 

O estudo colocava os portugueses nos piores lugares quando se trata de consultar a Internet para se informarem antes de comprar bens e serviços, embora se encontrem nos primeiros lugares na compra de carros novos através da rede. Quanto ao sector alimentar, a maioria dos cidadãos europeus em análise raramente utilizou a Internet para se informar ou para comprar.

 

 

O grande filósofo Friedrich Nietzsche escreveu outrora na obra “Assim Falava Zaratustra” uma frase que se adapta à necessidade intemporal do ser humano em sorrir à vida, se é que má sorte atrai má sorte: “Quando olhas para o abismo, o abismo também olha para dentro de ti”. Mas quando se trata de uma questão cultural, social, educacional e não dos acasos do destino, fala-se em numerosas famílias endividadas, em elevados números de fraude fiscal, problemas semelhantes ao do baixo grau de formação profissional, dos atrasos da desburocratização, do débil valor atribuído ao percurso da investigação em Portugal...

 

Sinais dos tempos

O ano começou com uma subida generalizada de preços. Água, electricidade, pão, gás, transportes, combustíveis... são motivos suficientes para nós, portugueses, nos preocuparmos e, como frequentemente se diz, “apertarmos o cinto”. Ora não será para levantar voo com certeza. Boaventura de Sousa Santos, sociólogo, é professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Em artigo publicado no website brasileiro “Jornal da Ciência”, o sociólogo refere-se a 2006 na medida em que, “Em vez de previsões certas, temos imprevisibilidades decisivas (...) Os sinais que nos foram sendo deixados em 2005 são sinais ambíguos e contingentes, não podendo, com base neles, fazer senão previsões levianas”.

 

Efectivamente, o estado da Economia mundial não se decidiu em 2005. As opiniões divergem, mas não muito. É algo perceptível nos títulos da comunicação social editados nos últimos tempos. “Crescimento da economia portuguesa revisto em baixa“, “Banco de Portugal mais pessimista”, assim como a declaração da insustentabilidade da Segurança Social, entre outros tópicos, reflectem o estado da nação e as evidentes preocupações. Mas em que instante a informação sobre a Economia do país se transforma em desinformação e até que ponto estamos mesmo preocupados?

 

Entre a estagnação e a recessão, fazem-se previsões e supõem-se imprevistos para 2006. Por exemplo, o Jornal de Negócios anunciava recentemente que o multimilionário George Soros acredita que a economia norte-americana poderá entrar em recessão no próximo ano, com a quebra nos preços da habitação, à medida que a Reserva Federal sobe o preço do dinheiro, criando uma “forte possibilidade” de abrandar também o crescimento das economias globais. Por cá as más notícias já chegaram para quem está a pagar empréstimo para a compra de casa. Os juros no crédito à habitação aumentaram desde o dia 1 de Fevereiro.

 

Boaventura de Sousa Santos, no referido artigo, chama ainda a atenção sobre as clivagens sociais que continuam a proliferar, criando mais dificuldades económicas que, por sua vez, fomentam o ciclo da desigualdade. E se riqueza gera riqueza, o oposto também se aplica. Está aos olhos do mundo “A combinação entre exclusão social, colonialismo e racismo. Os protestos sociais na França mostraram até que ponto o passado colonial da Europa continua a persegui-la. (...) Há pelo menos 8 milhões e 300 mil indivíduos (...) que têm investimentos superiores a 1 milhão de dólares, os chamados indivíduos EVL (de elevado valor líquido). Segundo o "Financial Times", o seu número aumentou em 60% nos últimos sete anos”.

 

São dados inter-relacionados a que não ficamos indiferentes e que nesta aldeia global em que vivemos facilmente se cruzam e repercutem.

 

Previsões que diferem

No panorama mundial as incertezas multiplicam-se e Portugal não tem sido excepção, espelho das flutuações de um mercado único. A abrir o ano a Agência Lusa divulgava as revisões “em baixa” do Banco de Portugal.

Se relativamente a 2005, o Banco de Portugal manteve a projecção de um abrandamento do crescimento económico do Produto Interno Bruto (PIB) para 0,3 por cento - contra 1,3 por cento, em 2004 - as tendências do crescimento da economia portuguesa este ano e no próximo apontam “valores mais pessimistas do que os do governo e das instituições internacionais”. Segundo o expresso no boletim económico de Inverno, o Banco de Portugal prevê um crescimento do PIB de 0,8 por cento, em 2006, e de 1 por cento, em 2007, contra as estimativas do Governo de uma expansão do PIB de 1,1 por cento, em 2006, e de 1,8 em 2007.

 

Os valores do Banco de Portugal ficaram ainda abaixo das previsões económicas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) que indiciou um crescimento da economia portuguesa de 1 por cento, em 2006, e de 1,8 por cento, em 2007 - a previsão mais baixa entre os membros da organização. Nesta matéria, o Fundo Monetário Europeu (FMI) prevê que a economia portuguesa cresça 1,2 por cento em 2006.

Lê-se que “O Governo prevê, na actualização do Programa de Estabilidade e Crescimento para o período de 2005-2009, um crescimento do PIB de 0,5 por cento em 2005”. A OCDE mais favorável apontava para um crescimento da economia portuguesa de 0,8 por cento, em 2005.

 

Ainda de acordo com o boletim de Inverno do Banco de Portugal, e mais uma vez abaixo das expectativas do governo, “o consumo privado deverá situar-se em 1,8 por cento, em 2005, descendo em 2006 e 2007 para 1,2 por cento e 1,1 por cento, respectivamente”. Está implicada nos números a queda do investimento em 3,1 por cento no ano passado, mais 0,3 pontos percentuais do que nas previsões de Outono do Banco de Portugal. Mais, “em 2006, o investimento deverá continuar em queda de 1,1 por cento e 0,8 por cento”. Por último, ainda que tal deva ocorrer a um menor ritmo que nos anos anteriores, Portugal deverá sofrer uma nova perda de quota de mercado das exportações. Na verdade, a economia portuguesa mantém-se há vários anos a crescer abaixo do seu potencial e a divergir face aos seus parceiros europeus.

 

Soluções à vista

Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, asseverou aos órgãos de comunicação que “a crise económica nacional não é permanente”. A retoma está sujeita essencialmente “ao dinamismo das empresas em reagirem aos desafios da concorrência internacional, e à determinação e rigor das contas públicas”.

O governador lançou entretanto quatro “linhas mestras” que oferecem soluções, considerando a necessidade de manter um “rigoroso realismo financeiro, apoiar e investir nas pessoas e criar vantagens comparativas para as empresas”.

A primeira proposta consiste em “assegurar a estabilidade macroeconómica”, isto é, “resolver em definitivo o problema orçamental e assegurar a sustentabilidade da segurança social”.

A segunda orientação é concernente à “necessidade de adoptar uma política social mais selectiva, com objectivos de redistribuição e especial apoio a desempregados, com particular reforço das políticas activas de emprego e de requalificação profissional”.

A terceira refere-se ao investimento nos recursos humanos, “nas pessoas, ou seja, intensificar o esforço em educação e formação”.

Finalmente, o quarto rumo proposto “recomenda a concentração de recursos e incentivos na promoção da inovação tecnológica”; nesta acepção, “só com um significativo aumento do conteúdo tecnológico das nossas produções e a expansão dos sectores de bens e serviços internacionalmente transaccionáveis conseguiremos superar com êxito as actuais dificuldades”.

 

Nas mãos dos visionários

Para conseguir contornar a recessão – económica e de valores - o povo português tem de lutar contra uma míriade de obstáculos que foram sendo herdados. Na era da globalização esta não é uma conquista fácil.

Segundo o panorama traçado por estudos do Deutsche Bank Research, (Centros de Crescimento Global até 2020, baseado no modelo de prospectiva Formel-G, Foresight Model for Evaluating Long-term Growth, aplicado a 35 países emergentes e da OCDE ) 12 países conseguirão assegurar um crescimento sustentado acima dos 3 por cento em média por ano nos próximos 15 anos. Portugal está favoravelmente representado no grupo da OCDE com uma taxa que varia entre os 2 e os 3 por cento. O objectivo é elevar a percentagem pelo melhor proveito das tendências e das regiões que acusam um desenvolvimento acelerado.

 

Neste contexto, o termo “Made in China” nunca teve tanta projecção, para se compreender que um dos motores propulsores da economia mundial está localizado na Ásia. Países como Índia, Malásia e China terão um crescimento superior a 5 por cento ao ano nos 15 anos seguintes.

Neste estudo também divulgado pelo website informativo janelanaweb.com, sete países asiáticos, três da América Latina (México, Chile e Argentina), Irlanda e Estados Unidos serão os anfitriões dos “centros de crescimento”, considerando o nível de crescimento dos 3 por cento ao ano. Próximos deste valor ficam Brasil e Espanha – este último com uma posição benéfica, “ponte” entre a América Latina e Europa.

 

Em contraste vislumbram-se os países que vão crescer, em média, abaixo dos 2 por cento: Alemanha, Países Nórdicos, Itália e Reino Unido - actualmente os países ricos da Europa - mas também o Japão.

 

De acordo com estes dados Portugal penetra, ainda que levemente, este grupo intermédio da OCDE com crescimentos entre os 2 e os 3 por cento ao ano, onde estão confortáveis Espanha (com o primeiro lugar), Canadá, França, Noruega e Áustria. A França, apesar dos confrontos de final do ano transacto, é designada como a nova essência do crescimento europeu nos próximos 15 anos.

Devendo poder aproveitar parcialmente as tendências de outros países, Portugal vai continuar a debater-se, porém, com dois problemas estruturais, como refere o editor Jorge Nascimento Rodrigues (www.janelanaweb.com): “a inversão na acumulação de capital real até 2020 (a maior quebra prevista nos rácios de investimento em relação ao PIB do grupo de 35 países estudados) e o baixo ponto de partida em matéria de capital humano (particularmente, o número de anos médio de ensino da população activa entre os 25 e os 64 anos)”.

Em última análise, neste estudo da equipa alemã de investigação não se revelam surpresas, é um facto, mas assume a sua importância para o planeamento geoestratégico de um país receptivo como tem sido Portugal.

 

 

 

Tendências até 2020 (retirado de www.janelanaweb.com)

Sociedade: urbanização; imigração; mulheres na população activa; envelhecimento; sector dos cuidados de saúde

Sociedade do Conhecimento: serviços intensivos em crescimento; virtualização das organizações e dos processos; biotecnologia como locomotiva do novo ciclo longo de Kondratieff; nanotecnologia como área de inovação

Globalização: Desregulação dos mercados; afirmação das empresas e grupos transnacionais de todas as dimensões; maior influência das instituições globais; intensificação das integrações regionais

Desglobalização: tensões sociais diversas; terrorismo internacional; escassez de recursos energéticos, com particular destaque para o petróleo

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