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R.I.P - António Feio


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Custa-me muito a aceitar que o António Feio se foi embora. Dita a razão que todos devíamos estar preparados para isto, mas a verdade é que raras vezes se viu alguém enfrentar um cancro com tamanha coragem e, porque não dizê-lo, sentido de humor. E isso não merecia um final feliz? Se a vida fosse como em alguns filmes, um homem que se fez a um terrível drama com a incrível alegria que o Feio foi mantendo - dentro da medida do possível, mas, por vezes, para lá disso - em tudo o que ia escrevendo no seu Facebook, no trabalho que continuava a fazer, na pequena janela de chat que se abria, de vez em quando, aqui no meu computador e onde me dizia que lá ia indo, ele teria vencido a doença. Infelizmente, a vida é, boa parte das vezes, uma valente merda.

 

 

 

Eu não tinha uma relação próxima de amizade com o António Feio, mas gostávamos de trabalhar um com o outro. E a minha história, como guionista, começa não só com o Herman, mas com ele: um dos primeiros trabalhos pagos que fiz na vida, foi co-escrever os sketches que o Feio interpretava no programa Ai os Homens, da personagem Jóni Bigode. O programa era péssimo, sejamos francos; mas o António era, obviamente, grande. E ficou-me a vontade, a mim que o via desde pirralho na TV (e como ele me emocionou de forma arrasadora numa novela em que fazia de toxicodependente, Origens), de trabalhar com ele em algo mais digno e aliciante. Mas em 95 isto eram sonhos de um escriba imberbe. Sonhos que se tornaram realidade quando co-escrevi, para ele, o José Pedro Gomes e um dos melhores elencos com que já trabalhei na vida, a série Paraíso Filmes. Na série, o António fazia de Túlio Gonzaga, o constantemente pedrado realizador da produtora / empresa de louça sanitária da Trafaria. Ele construiu a personagem tão depressa e de forma tão brilhante, logo ao primeiro episódio, que tornou a escrita dela, nos episódios seguintes, num dos melhores empregos que tive na vida.

 

 

 

Mais recentemente, trabalhámos - eu como autor da adaptação, ele como encenador e actor - na peça Os Melhores Sketches dos Monty Python. Foi uma experiência extraordinária vê-lo a dirigir as operações: sem nunca se irritar, milimetricamente lutando pela melhor maneira de cada gag funcionar no palco do Casino Lisboa. Não exagero quando digo que era um sonho trabalhar com ele: um bom homem, humilde, talentoso, adepto do trabalho em equipa, do diálogo para que tudo corresse na perfeição.

 

 

 

É inacreditável que ele tenha partido. Inacreditável. Apesar de, nos últimos dias, e depois da inquietante mensagem que ele deixou no Facebook, um pedido para que o deixassem em paz porque os últimos tratamentos estavam a arrasá-lo, todos temermos o pior. Finalmente derrotado? Talvez, mas conseguindo tempo para desabafar com os fãs e os amigos uma última vez. É de Homem.

 

 

 

Um sonho cancelado: uma sequela da Paraíso Filmes, em que a produtora da Trafaria se dedicava a produzir as suas próprias versões de séries televisivas - Paraíso TV. Era uma ideia de sonho que andava há anos a ser falada nas Produções Fictícias, embora impossível de concretizar - e não só pelo que aconteceu ao António. A verdade é que hoje nenhuma estação de televisão arriscaria uma experiência tão diferente como a RTP arriscou naquela altura. Mas lembro-me de, sentado ao lado dele na plateia do espectáculo dos Monty Python, nos ensaios, comentar como seria interessante voltar àquele universo. O Túlio Gonzaga que ainda vivia dentro dele concordou.

 

 

 

Caro António, foi incrível trabalhar contigo. Espero que estejas já a trabalhar numa outra filial da Paraíso Filmes, um bocadinho mais distante que a Trafaria. Até um dia.

 

http://havidaemmarkl.blogs.sapo.pt/

Random Mode @ Beatport

http://soundcloud.com/spock/straight-flush

Groove Technology Records

A VENCER TITULOS DA TRETA DESDE 1893 - FUNDADOS POR UMA NOTICIA DE UM JORNAL DE LISBOA

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não consigo acreditar...

 

a realidade é mesmo cruel

 

que fique em paz e que seja lembrado por tudo o que fez de bom

 

por todas as vezes que nos fez rir e deu alegria

 

pela grande lição de vida durante estes seus últimos dias de vida connosco

 

 

RIP António Feio, Obrigado por tudo!

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Bem, ninguém dura uma eternidade vivo, mas sim em recordações .

E este homem e as suas obras sem duvida nunca morreram .

 

Que a sua alma descanse verdadeiramente em paz

 

Será sempre um grande nome no teatro português

 

...

4:20 pm Work for a cause, not for applause !

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Perante uma noticia destas parece que ficamos todos meio atordoados, como se todos tivéssemos tido uma experiência colectiva de quase morte. E nestas alturas, apesar da de ter sido outra pessoa a falecer, a vida para nós parece desenrolar-se em camera lenta e ficamos a pensar em como as coisas aparentemente insignificantes ganham uma relevância incrível. Até que passado um, dois dias, uma semana, mergulhamos novamente no ritmo do nosso quotidiano e continuamos a viver a vida como se apenas alguns infelizes no mundo tivessem destinados a morrer.

A realidade é que todos nós vamos acabar por morrer, todos! O que faz que todos nós tenhamos uma doença crónica que se chama vida, e comparada a uma grande escala de tempo, todos estamos em fase terminal de vida, a fazer coisas que achamos serem realmente importantes.

O António Feio disse numa entrevista este ano ter mudado a sua percepção sobre a vida quando lhe foi diagnosticado a doença e conseguiu ir a tempo de valorizar as coisas que lhe são realmente importantes, foi uma grande mensagem, altamente viciante e correu a internet inteira, "vivam mais, aproveitem a vida, nao deixem nada por dizer, agradeçam, e ajudem-se uns aos outros". É essa a perspectiva que ele quer que todos nós sintamos, aqui, hoje, já.. para depois não ser tarde demais, para que esta experiência de vida tenha o melhor daquilo que nós somos feitos.

 

Porque a morte vai levar-nos a todos. É urgente parar de fingir que vivemos pra sempre.

 

Um bem hajas António Feio

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Does the set of all those sets that do not contain themselves contain itself?

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Perante uma noticia destas parece que ficamos todos meio atordoados, como se todos tivéssemos tido uma experiência colectiva de quase morte. E nestas alturas, apesar da de ter sido outra pessoa a falecer, a vida para nós parece desenrolar-se em camera lenta e ficamos a pensar em como as coisas aparentemente insignificantes ganham uma relevância incrível. Até que passado um, dois dias, uma semana, mergulhamos novamente no ritmo do nosso quotidiano e continuamos a viver a vida como se apenas alguns infelizes no mundo tivessem destinados a morrer.

A realidade é que todos nós vamos acabar por morrer, todos! O que faz que todos nós tenhamos uma doença crónica que se chama vida, e comparada a uma grande escala de tempo, todos estamos em fase terminal de vida, a fazer coisas que achamos serem realmente importantes.

O António Feio disse numa entrevista este ano ter mudado a sua percepção sobre a vida quando lhe foi diagnosticado a doença e conseguiu ir a tempo de valorizar as coisas que lhe são realmente importantes, foi uma grande mensagem, altamente viciante e correu a internet inteira, "vivam mais, aproveitem a vida, nao deixem nada por dizer, agradeçam, e ajudem-se uns aos outros". É essa a perspectiva que ele quer que todos nós sintamos, aqui, hoje, já.. para depois não ser tarde demais, para que esta experiência de vida tenha o melhor daquilo que nós somos feitos.

 

Porque a morte vai levar-nos a todos. É urgente parar de fingir que vivemos pra sempre.

 

Um bem hajas António Feio

 

 

palavras sábias Bruno, é isso tudo... ;)

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Perdemos um grande homem/artista, espero k tenhamos aprendido uma grande lição de como se deve viver a vida.

RIP António :evil: Feio

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